Edital MCT/CNPQ 14/2008 Universal Processo 470333/2008-1



29 de outubro de 2011

O BUNGA-BUNGA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL DE SÃO LUÍS/MA



BUNGA-BUNGA DO PATRIMÔNIO 
HISTÓRICO-CULTURAL DE SÃO LUÍS/MA

‎"Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar.
E eu não vou me resignar nunca".
Darcy Ribeiro

O "Painel sobre o Centro Histórico de São Luís" realizado na Câmara Municipal da Capital, foi o anúncio antecipado do fracasso do "Projeto São Luís 400 anos"! Ouvimos, estridentemente, pronunciado com todas as letras, que a politicagem impossibilitou a organização da Programação integrada, entre os três poderes da República; restando apenas a realização dos ‘festejos’ em 2012! 
Fica a pergunta, que nunca quer calar: Festas para comemorar o quê? 
Parece que para os gestores de plantão não importa o 'quê' comemorar, basta a efeméride redonda, para promover o que mais sabem fazer: e-ventos efêmeros! 
Os benefícios concretos, físicos, materiais e ambientais para a população em geral, - alardeados e difundidos espetacularmente - esses, não serão realizados! 

Fracasso, incompetência e despreparo! O escárnio rondava as autoridades, paramentadas como se estivessem num enterro, sepultando um cadáver resignado, resoluto, minguado, tacanho: o Projeto São Luís 400 anos
Vamos acender as velhas velas mágicas e aromatizar o ambiente com incensos exóticos, como num exuberante bunga-bunga nativo! Atiçar muita fumaça para erguer cortina espessa ante os olhos perplexos dos cidadãos ludovicenses!

O desempenho administrativo dos gestores de plantão esteve sob o crivo dos vereadores e da galeria, na manhã de segunda-feira (31/10); e o temor estava estampado nos rostos de alguns integrantes da mesa! Porém, tirando forças, não se sabe de onde, num golpe de cena espetaculoso, os discursos sucederam-se invocando os mesmos argumentos técnicos e financeiros, de sempre, para defender o indefensável: o opróbrio de um Centro Histórico abandonado, fantasmagórico e sinistro!

Foi patético e ao mesmo tempo cômico, ouvir as ladainhas, por vezes enfurecidas, das justificativas para mais esse espalhafatoso fracasso... Proferidas com ar de pesar e sofreguidão! Cena que inspirava melancolia piedosa na platéia! Muito embora, pudéssemos ser cativados por uma baforada de compaixão momentânea, tal desempenho de gestores públicos merecia uma resposta à altura! 
Como pode agentes públicos passarem impunemente por tais vexames, admitindo o próprio desastre, e nada acontecer em contra-partida?

Entrementes, reverberava pelas paredes do salão a notícia estrondosa, diluída entre os lamentos! Eis a pérola lançada... Com menos de um ano para o esperado 08 de setembro de 2012, concluiu-se que não há mais tempo para realização de todos os Projetos do São Luís 400 anos, tão necessários e urgentes para a população; anunciados de forma espetacular por todas as mídias, pelos últimos dois anos! E agora? Pasmem, cidadãos! Proclamam que só nos resta 'festejar'! Vamos comemorar o abandono e o descaso, com muita bebida (e outras cositas mas), shows, mídia, desfiles... E o que fazer!? Ora! Cantar! 


Sorria! Sorria, meu bem, da infelicidade, que você procurou! Sorria, meu bem. / Hoje você chora, por alguém que nunca lhe amou! (Sorria, Sorria; de Evaldo Braga).

Eloquentemente traços marcantes sobressaíram, em grossas pinceladas, da postura dos agentes públicos na ocasião: a arrogância e o espírito autocrático - típicos em aprendizes de tecnocratas! 


Até esse Blog Teatro das Memórias já sofreu a fúria da 3a. SR do IPHAN, ainda sob interpelação judicial até poucos dias, quando foi extinta a punibilidade! 
(http://teatrodasmemorias.blogspot.com/2011/09/extinta-punibilidade-3a-sr-iphan-contra.html)


Punição legal pretendida baseando-se na antiga Lei Falcão; lei da censura do tempo da Ditadura Militar no Brasil! Ataque furioso recebido por expressarmos ideias críticas e contrárias às práticas rotineiras de arbítrio e falta de democracia - além de indignação pelo abandono e descaso - na imposição de um modelo fracassado de patrimonialização dos espaços sociais da memória coletiva da cidade. Fracasso admitido pelos próprios gestores no Painel ocorrido na Câmara Municipal de São Luís! 

Até quando será mantido e perpetuado esse estado lamentável de descalabro e indiferença? Impossível prever!

Percebe-se claramente, nos olhos dos gestores, uma variação de fúria, consciente e deliberada – expressando uma raiva incontida – que de repente muda a máscara para um tipo de ingenuidade e pureza d’alma, dos que fingem fazer o bem, com bons corações; límpidos como as águas da Fonte do Ribeirão! Chega a ser tocante e pungente!
Câmara Municipal de São Luís

Todavia, os problemas existem e destacam-se na paisagem urbana! Os desacertos na gestão do Centro Histórico gritam, repercutem, espalham-se para longe das fronteiras da Ilha, do Estado, do País! E, os nossos ‘heróis da preservação e do amor ao Patrimônio’, continuam incólumes e intocáveis; sentem-se indestrutíveis!

Querem nos ensinar a ‘amar’ o Centro Histórico, a ser ‘sensíveis’ com a História, e a ‘preservar’ a arquitetura colonial dos poderosos escravocratas do passado (e do presente?) ... 
Que metáfora instigante para uma pesquisa mais profunda!


Mas afinal, não são eles, os nossos gestores de plantão, que deveriam nos dar o exemplo desse ‘amor’? Não parece ser o caso; são maus professores! Fica, então, mais uma vez a velha lição moral (reload) do cinismo pós-moderno : - Faça o que eu digo, não faça o que eu faço! 

Nós, caros cidadãos, é que somos insensíveis, ignorantes e odiamos o passado! Eles, não, são os mestres e sábios da ‘preservação’! Pois, então, por que não são os primeiros a dar exemplos desse amor? Por que suas políticas não funcionam? Que estranha incongruência!

Constatamos que ao se sentirem intocáveis - marionetes nas mãos dos que os sustentam, até o limite do paroxismo - não percebem o papel grotesco e bizarro que desempenham! Faltam espelhos para se mirarem! Não percebem o ridículo, nem a dimensão de sua incompetência! Seus amigos, sempre elogiam seus desempenhos mirabolantes e irados, ao enfrentar com bravura mais um ataque dos inimigos, dos insensíveis, dos rancorosos, dos odiosos, dos... cidadãos!

No final, dizem uns para os outros: - fomos brilhantes! Conseguimos calar a fúria dos estúpidos ignorantes que não entendem nada de Patrimônio Cultural da Humanidade! Nós, sim, os eleitos, os experts, os sabidos, é que somos os verdadeiros preservacionistas e conservadores da História! O narcisismo dessa turma não tem tamanho; nem cabe neles! Só não é maior que o sonho máximo de desfilar pela Beija-flor, para milhões de corações globalizados!

Curiosidades exóticas a parte, destaca-se na trama - para completar a cena do teatro burlesco – os que fazem papel de bajuladores e admiradores incondicionais; capachos da ordem sinistra dos fantoches! Que alegre trupe de aduladores animados para a blague; num verdadeiro festival de galga, facécia e gracejos!

Os títeres de plantão, disfarçados de técnicos do ‘patrimônio’, na verdade labutam - entre suor e lágrimas insinceras - para ‘preservar’ os interesses dos grupos que investem economicamente no espaço social do Patrimônio Histórico e Cultural! Recebem seus dividendos para reproduzir e manter esses interesses, garantindo lucro e ganhos infindáveis! Douram seus discursos com loas, louvores e apologias ingênuas e românticas ao ‘patrimônio’ e a ‘memória’ – patrimônio e memória de quem?


Até as 12 horas desse mesmo dia, não foi pronunciada qualquer palavra sobre o não cumprimento da Lei Municipal nº 5.159 sancionada pelo Prefeito João Castelo, que institui a realização da malfadada "Semana Cultural do Bairro Praia Grande", cuja previsão é de ser realizada anualmente, no mês de Setembro, coincidindo com o aniversário de São Luís. A lei completou um ano de sanção, e seus objetivos de fortalecimento cultural, artístico, e, consequentemente, turísticos não foram provocados e estimulados, devido a não realização do evento. 

As charadas que lançam sobre a população, se auto-vangloriando de seus atos supostamente heróicos pela preservação histórico-cultural, servem para desviar o assunto; laudativos para boi dormir! Salamaleques, abracadabras, pirimpimpins, truques e mais truques, para deslocar a atenção e fugir do foco! Essa é a verdadeira função da ideologia! 


Ah! Sim, não sejamos injustos; não se pode esquecer: As lixeiras novas! 'Amanhã' já estarão sendo encaminhadas! Impressiona a capacidade líquida: Vinte litros de lixo! É o Maranhão Maravilha! Vamos, vale festejar!


De repente, indaga-se: - para que tanta pressa em hora errada, já se passaram mais de três anos de administração?! Relaxa: - Deixe que digam, deixe que falem. Deixa isso pra lá! Vem pra cá! O que é que tem! Eu não estou fazendo nada, você também!  (Deixa isso pra lá; de Jair Rodrigues)

Quais são as conseqüências dessas imposturas administrativas para a cidade? É só abrir os olhos e ver a paisagem! Soluções?! Quem sabe?! O negócio é cair na tentação, e aceitar o convite da promoção turística tão alardeada: pegar o primeiro voo do beija-flor direto para Milão, e dançar bunga-bunga na Itália; ou na Sapucaí! Mas, isso é só para aqueles que quebram o coco, mas não arrebentam a sapucaia!

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Centro Histórico de São Luís:
Situação, Abandono e Soluções (?!)




O evento ocorreu no dia 31/10 (segunda-feira), às 10h, 
“Plenário Estácio da Silveira” - Câmara Municipal de São Luís


O principal motivo que torna São Luís a capital "Patrimônio Cultural da Humanidade" são os extensos acervos arquitetônicos concentrados no Centro Histórico da Praia Grande, que a cada ano vem se degradando pela ausência de políticas públicas especificas de conservação. E que transformam o principal espaço histórico da cidade em um lugar esquecido e devastado pelo tempo.
É comum observar veículos de carga pesada pelas ruas do Centro Histórico, além do acesso livre de carros à serviço dos órgãos públicos, que em virtude da conservação do espaço histórico de São Luís não deveriam sequer estar transitando pelas vias estreitas do bairro.

Com intuito de discutir essa situação de completo abandono do Centro Histórico de São Luís, vereador Dr. Fernando Lima (PCdoB), convidou para participar do evento, a Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, representante da Fundação Municipal de Cultura, Euclides Moreira Neto, Secretário Municipal de Turismo, Livíomar Macatrão, Promotor de Justiça Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural, Luís Fernando Barreto, Secretário Municipal de Urbanismo e Habitação, Domingos Brito, Secretário de Estado da Cultura, Luís Henrique Bulcão e o Coordenador Executivo do Movimento Nossa São Luís, Daniel Madorra. 


Na ocasião o parlamentar questionou as autoridades municipais pelo não cumprimento da Lei Municipal nº 5.159 sancionada pelo Prefeito João Castelo, que institui a realização "Semana Cultural do Bairro Praia Grande", cuja realização está prevista para ser realizada anualmente, no mês de Setembro, coincidindo com o aniversário de São Luís. A lei completa um ano de sanção, e seus objetivos de fortalecimento cultural, artístico, e, consequentemente, turísticos não foram provocados e estimulados, devido a não realização do evento.




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23 de outubro de 2011

LE BONHEUR EST LÀ-BAS, EN FACE

Jean-Pierre Beaurenault e Pedro Silva "Calango"
Quinta-feira passada, 20 de outubro, ocorreu no PAPOÉTICO a exibição do documentário “LE BONHEUR EST LÀ-BAS, EN FACE”, um média metragem filmado no Maranhão na década de 70 (com cenas de São Luís e da comunidade quilombola rural de Ariquipá – Bequimão), em película 16mm, do cineasta francês Jean-Pierre Beaurenaut.

Na oportunidade tivemos um breve debate sobre o filme. Aspectos estéticos e filmográficos foram comentados pelo cineasta Murilo Santos. A exibição contou com a presença de duas pessoas que residiram na comunidade de Ariquipá e tem relações de parentesco com o líder comunitário Pedro Silva "Calango", já falecido (na foto, acompanhado do cineasta francês).

Cabe ressaltar alguns pontos concernentes as análises sócio-etnológicas conduzidas pelo autor na construção da narrativa do documentário. Infelizmente este aspecto não foi muito desenvolvido no debate, que se seguiu a exibição do filme. Nesse espaço aproveitamos a oportunidade para levar a frente uma breve reflexão de Antropologia Crítica, que se faz necessária.

Jean-Pierre Beaurenault filmou alguns personagens selecionados da comunidade de Ariquipá, remanescentes de um antigo engenho e fazenda de cana de açúcar no município de Bequimão que se deslocaram para São Luís, buscando melhores condições de vida. O subemprego na Capital do Estado surge como única alternativa para escapar das condições adversas, no que hoje se chama de comunidade quilombola.  O título do áudio-visual “Le Bonheur est Là-bas, em face” reproduz a frase expressa por um dos personagens ao justificar seu êxodo para São Luís: “a felicidade está lá na frente”.

Ao assistir ao filme logo se destaca o esforço do cineasta em explicitar as formas de exploração econômica sob as quais estão subordinados, ainda hoje – segundo depoimento e testemunho das duas pessoas presentes – os membros da comunidade de Ariquipá. A comunidade rural é apresentada com traços de decadência econômica de longa data; fruto da falência e destruição da antiga fazenda de Cana-de-Açúcar, montada por colonizadores há mais de duzentos anos atrás. Abandono das máquinas, abandono dos seres humanos... O filme retrata de modo sensível, convincente e dramático as condições de pobreza e miséria no Grande Sertão brasileiro. Registra a presença de crianças sem escola, subnutridas, implicadas na produção diária de alimentos precários e carentes de nutrientes. A dieta de proteínas é rarefeita e percebem-se as bases rudimentares de produção alimentícia e de moradia. As mulheres e as crianças passam as maiores agruras, e os homens seguem a estrada atrás de dias melhores na capital. Cenas pungentes de quebradoras de coco babaçu, lavradores, camponeses, extrativistas, etc., isolados da produção industrial, e do desenvolvimento da sociedade brasileira, desde a década de 1970! Exploração econômica violenta, aviltante e escandalosa... que persiste!
As bases de análise sócio-etnológicas costuradas na argumentação narrativa do filme se estrutura evidentemente numa Antropologia Econômica de cunho marxista. O autor revela com detalhes minuciosos as formas de reprodução de um estágio primitivo de exploração econômica de homens e mulheres em estado de espantosa pobreza. Passado mais de trinta anos, e pouco mudou! Como foi testemunhado por uma das pessoas presentes na exibição, a comunidade apenas recentemente recebeu a primeira ligação de energia elétrica!
A narrativa do cineasta foi montada a partir de uma Antropologia Dialética, considerada por alguns antropologistas de plantão como “evolucionista” ou “etnocentrista”. Antropologistas ditos “relativistas”, que se classificam como pós-modernos, acusam a Antropologia Econômica de base analítica marxista de ser uma Antropologia ultrapassada, enviesada, anti-relativista e não culturalista.
Podemos colocar, a partir desse filme, uma reflexão interessante acerca dos alcances de uma Antropologia etnicista, predominante na atualidade. Hodiernamente muitos antropologistas defendem a idéia de que os grupos remanescentes de antigas fazendas escravocratas sejam grupos étnicos, e que esses grupos, classificados como quilombolas, possuem ‘cultura’ diferente dos caboclos e sertanejos regionais brasileiros. E também consideram ‘evolucionista’ (que na boca desses letrados soa como um xingamento terrível) toda Antropologia que revela as bases econômicas da exploração do homem pelo homem, tanto exógena, quanto endógena. Ouvimos a acusação de que o cineasta Jean-Pierre Beaurenaut foi etnocêntrico ao não considerar a importância das manifestações culturais e religiosas, tendo supostamente desconsiderado as festas e ritos comunitários, deixando de definí-los como traços diacríticos ‘etnicos’. Hoje a moda dominante entre os pseudo-acadêmicos é supervalorizar os 0,00000001% de ‘diferença’ cultural, definindo como étnico, esses micro-signos de diferença.  Etnia é um pseudo-conceito inventado numa Europa colonialista, e esses antropologistas não se dão ao trabalho de fazer a história e a epistemologia desse termo. Essa fixação neurótica nas dessemelhanças minimalistas, só servem para ocultar as formas de exploração econômicas que existem fora e dentro dessas comunidades. Lamentável postura mistificadora que insiste em supervalorizar um culturalismo ingênuo - misturado ao folclorismo catolicista - que nega a força política de uma necessária Antropologia Crítica. Ao atacarem a Antropologia Dialética, esses antropologistas fazem a apologia da pobreza, através da museologização da miséria e da patrimonialização do atraso. Nutrem a crença na redenção econômica dessas comunidades através de um turismo eco-etno sustentável!  É uma mistura de nostalgismo e passadismo regressivo, com um antropologismo turistificado e pós-modernista.
O filme em questão é uma verdadeira peça de denúncia da miséria e da exploração humana. É uma denúncia esclarecida das bases retrógradas de uma sociedade complacente com a miséria de muitos brasileiros. No fundo, o etnólogo-cineasta se investe de fortes e sólidas análises sociológicas sobre os fundamentos do êxodo rural no interior do Estado do Maranhão. Mostra como as manifestações ditas ‘culturais’ atuam como ‘narcóticos’ para o alívio passageiro, realimentando com poucas medidas as energias do grupo comunitário, a fim de manter-se vivo naquelas condições econômicas e sociais deploráveis.
A Antropologia Dialética brasileira merecia um filme dessa natureza, com essa paixão humanista: um filme desconcertante, revelador, sensível e indignado. A crítica antropológica heterodoxa, que rema contra a maré modista pos-modernista, irresponsável e negligente, tem nesse documentário um monumento de lucidez e perspicácia profunda.
Jean-Pierre Beaurenault merece todos os nossos aplausos!

4 de outubro de 2011

QUEREM DESTRUIR A QUINTA DA BOA VISTA


ESTADO  ASSASSINA  MAIS  UM  PATRIMÔNIO  DA  CIDADE 

QUEREM DESTRUIR A QUINTA DA BOA VISTA
MAIS UM ATAQUE DO GOVERNO CONTRA O PATRIMÔNIO DA CIDADE
Enviado pelo amigo, arquiteto Nireu Cavalcanti
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Gente amiga, que ama a cidade do Rio de Janeiro
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Mais um crime está para se consumar ― contra o Patrimônio Histórico, Cultural e Arquitetônico ― se não houver mobilização para evitá-lo. Esses ASSASSINATOS irão ocorrer em nome da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Simplesmente querem DESTRUIR uma área vizinha à Quinta da Boa Vista, para construírem UM ESTACIONAMENTO PARA O MARACANÃ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Em vez de fazerem um sistema de transporte coletivo para o deslocamento das pessoas, como fez O ROCK IN RIO, querem destruir o nosso patrimônio. O curioso é que a área é da União e passará para o município!
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Estou encaminhando esse email com o texto encaminhado pela brava Ana Stela, com seu telefone e email. Entrem em contato com ela para entrar nessa luta.
Os nossos heróis da FEB saíram desse local para defenderem a Democracia, cabe a nós honrar os nossos antepassados. Abraço, Nireu


Texto de Ana Stela, enviado para o historiador e arquiteto Nireu Cavalcanti:
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Boa noite prof. Nireu,
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Não sei se o sr ja tomou conhecimento, mas uma area em São Cristovão ao lado da Quinta da Boa Vista, que ate entao fazia parte do Exercito Brasileiro, esta prestes a passar para o nivel do governo municipal, e nessa area o prefeito pretende derrubar tudo o que existe para fazer estacionamento para o Maracana.
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So que nessa area que pertenceu a Quinta da Boa Vista e uma area historica, que foi o local onde a Princesa Leopoldina teve aula de equitacao com o Sr Luiz Jacome, onde existe um picadeiro fechado (local para a pratica de equitacao) de 1821 alem de outros predios historicos como o do quartel ao lado, que foi o local de onde sairam muitos dos Brasileiros que compuseram a FEB- Forca Expedicionaria Brasileira na 2 Guerra Mundial.

Bom como Cidadaos Brasileiros, decidimos tentar mudar o “destino” que esta sendo dado as dependencias do Centro Hipico do Rio de Janeiro(antigo Centro Hipico do Exercito) que foi o primeiro Clube Hipico do Brasil em 1811 quando la funcionava o Club Hipico de Equitacao(ha exatos 100 anos atras).
Resolvemos entao, algumas pessoas, nos reunirmos e buscarmos juntamente com o vereador Carlo Caiado (uma pessoa do cavalo, sua familia inclusive criava cavalos), entrar com o pedido de tombamento do local por ser Patrimonio Historico Brasileiro – embora saibamos que nos Brasileiros nao “saibamos, conhecamos ou valorizamos” a nossa historia; estamos juntando o pouco que temos de documentos, para justificar junto ao IPHAN a necessidade de ser feito o tombamento do local.

Fui ate a UFF onde me passaram seu email e um numero de telefone 97627088, porem nao consegui contata-lo por esse numero, entao envio este email, esperando retorno para que possamos quem sabe contar com sua ajuda para provar que aquela area pertenceu a Quinta da Boa Vista e foi local de uso de praticas equestres pela familia Imperial.

Agradeco desde ja sua atencao.

Ana Stela Fonseca

3 de outubro de 2011

Seminário Internacional Sociologia e Esperança


Aos interessados neste tema, informo que se realizará no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, de 18 a 20 de outubro de 2011, o Seminário Internacional sobre Sociologia e Esperança, sob patrocínio da Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da FFLCH-USP. 
O acesso será gratuito e não há necessidade de inscrição. Não haverá fornecimento de atestado de presença ou certificado de participação. 
Os interessados em ver e ouvir as conferências e acompanhar os debates à distância poderão fazê-lo pela internet, em tempo real, pois serão transmitidos on-line por iptv.usp. Devem solicitar-me, por e-mail, o link de acesso até o dia 14 de outubro, às 17 h.

Haverá tradução simultânea inglês-português-inglês.
José de Souza Martins e Fraya Frehse (coordenadores) 

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Sociologia e Esperança: seminário internacional

Conferências:
18 de outubro (Terça-feira):
Manhã: Coordenador: José de Souza Martins
09:45h – Abertura: Maria Arminda do Nascimento Arruda (Pró-Reitora de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo)

10:00h – Conferência de abertura: Peter Burke (Universidade de Cambridge),
Tem a Esperança uma História?

Tarde: Coordenadora -  Fraya Frehse
14h30h – José de Souza Martins (Universidade de São Paulo),
A crise da esperança na crise da Sociologia

16:00h – Suzanna Sochaczewski (Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos),
O proletariado e a esperança: tendências no sonho da boa vida

19 de outubro (Quarta-feira):
Manhã: Coordenador – Caio Liudvik
09:00h – Alfredo Bosi (Universidade de São Paulo),
Economia e Humanismo: A esperança em ação do Padre Lebret

10:30h – Fraya Frehse (Universidade de São Paulo),
As u-topias do pensamento sociológico

Tarde:  Coordenadora – Marilia Pontes Sposito
14:30h - Maria Lúcia Pallares-Burke (Universidade de São Paulo e Universidade de Cambridge),
Reflexões sobre a desesperança e o fracasso

16:00h - José Machado Pais (Universidade de Lisboa),
A esperança em gerações de futuro sombrio

20 de outubro (Quinta-feira):
Manhã: Coordenador – José de Souza Martins
09:30h – Graham Howes (Universidade de Cambridge)
Fontes sagradas e seculares da esperança para um século pós-moderno?

Prédio de Filosofia e Ciências Sociais (FFLCH-USP) – Cidade Universitária – Sala 14

Patrocínio:
Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo;
USP – Pró-Reitoria de Cultura e Extensão;
Programa de Pós-graduação em Sociologia (FFLCH-USP)

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Seminário Internacional sobre Sociologia e Esperança

Departamento de Sociologia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

As transmissões serão em tempo real. Portanto, no folder anexo, veja os horários das conferências para se conectar com o auditório. Note que cada dia terá um link diferente.

Nos dias das transmissões, pode-se também acessar diretamente o site 
www.iptv.usp.br: clicar em "Transmissões", depois em "Ao Vivo" e, em 
seguida, no banner com o nome do evento, ou acessar diretamente através 
dos links acima.

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Livros dos conferencistas do Seminário Internacional sobre Sociologia e Esperança

(Os que estão assinalados com asteriscos em vermelho são os que estão mais próximos da conferência a ser pronunciada).

Alfredo Bosi:

História Concisa da Literatura Brasileira, Editora Cultrix
**Dialética da Colonização, Companhia das Letras
**Literatura e Resistência, Companhia das Letras
**Céu, Inferno: Ensaios de crítica literária e ideológica, Editora 34.
O Ser e o Tempo da Poesia, Editora Cultrix.

Caio Liudvik:

**Sartre e o Pensamento Místico, Editora Loyola.

Fraya Frehse:

**O Tempo das Ruas na São Paulo de Fins do Império,  Edusp. 
**Ô da Rua! O Transeunte e o Advento da Modernidade em São Paulo, Edusp
**Frehse, Fraya & Titan Jr., Samuel (orgs.). Roger Bastide. Impressões do Brasil, Imprensa Oficial. 

Graham Howes:

**The Art of the Sacred: An Introduction to the Aesthetics of Art and Belief, I. B. Tauris
The Police and the community (com John Brown, orgs), Saxon House.

José de Souza Martins:

**Uma Arqueologia da Memória Social (Autobiografia de um Moleque de Fábrica), Ateliê Editorial.
Subúrbio, Editora Hucitec/Editora da Unesp
Exclusão Social e a Nova Desigualdade, Editora Paulus.
**Fronteira - A degradação do Outro nos confins do humano, Editora Contexto.
**A Sociabilidade do Homem Simples (Cotidiano e História na Modernidade Anômala), Editora Contexto.
**Sociologia da Fotografia e da Imagem, Editora Contexto.
O Cativeiro da Terra, Editora Contexto.
**A Política do Brasil Lúmpen e Místico, Editora Contexto.
Florestan - Sociologia e consciência social no Brasil, Edusp.
Reforma Agrária: o Impossível Diálogo, Edusp,  
**A Sociedade Vista do Abismo (Novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes sociais), Editora Vozes.
**A Aparição do Demônio na Fábrica (Origens sociais do Eu dividido no subúrbio operário), Editora 34.
José de Souza Martins, Coleção “Artistas da USP”, Edusp.
**O imaginário e o poético nas Ciências Sociais (em colaboração com Cornelia Eckert e Sylvia Caiuby Novaes), Edusc, Bauru (SP).
José Machado Pais:

**Tribos urbanas: produção artística e identidades  (em colaboração com Leila Maria da Silva Blass - coordenadores), Editora Annablume
Culturas Juvenis, Imprensa Nacional/Casa da Moeda (Lisboa)
**Ganchos, tachos e biscates: jovens, trabalho e futuro, Editora Âmbar (Porto)
A prostituição e a Lisboa boémia: do século XIX a inícios do século XX, Editora Âmbar (Porto)
**Sociologia da Vida Quotidiana. Teorias (Métodos e Estudos de Caso), Imprensa de Ciências Sociais (Lisboa)
Sousa Martins e suas memórias sociais: sociologia de uma crença popular, Editora Gradiva (Lisboa)
**Traços e riscos de vida: uma abordagem qualitativa a modos de vida juvenis, Editora Âmbar (Porto)

Maria Lúcia Pallares-Burke:

O Spectator, O Teatro das LuzesDiálogo e Imprensa no Século XVIII, Editora Hucitec.
Nísia Floresta, O Carapuceiro e outros ensaios de tradução cultural. Editora Hucitec.
**As muitas Faces da História – 9 Entrevistas, Editora da Unesp.
**Gilberto Freyre, Um Vitoriano dos Trópicos, Editora da Unesp.
**(Com Peter Burke) Repensando os TrópicosUm Retrato Intelectual de Gilberto Freyre, (tradução Fernanda Veríssimo), Editora da Unesp.

Marilia Pontes Sposito:

**A Ilusão Fecunda (A luta por educação nos movimentos populares), Editora Hucitec
Espaços públicos e tempos juvenis, Global Editora.
**O Trabalhador-Estudante, Edições Loyola.
**Espaços Públicos e Tempos Juvenis, Editora Global.

Peter Burke:

**Cultura Popular na Idade Moderna, Companhia das Letras.
 A Fabricação de Luis XIV, Zahar
**Uma História Social do Conhecimento, Zahar
Uma História Social da Mídia, Zahar
**O que é a historia cultural? Zahar
**A Arte da Conversação, Editora Unesp
A Escola dos Annales (1929-1989), Editora Unesp
As Fortunas d'O Cortesão (A recepção européia ao cortesão de Castiglione), Editora Unesp.
**História e teoria social, Editora Unesp.
*Linguagens e comunidades nos primórdios da Europa moderna, Editora Unesp
Vico, Editora Unesp
**Variedades de Historia Cultural, Civilização Brasileira
**Hibridismo Cultural, Editora Unisinos

2 de outubro de 2011

Outros 400 homenageará Cartola


Léo Spirro lança cd com repertório dedicado ao mestre de Mangueira em show. Outros convidados são a cantora Milla Camões e o poeta Herberth de Jesus Santos, que autografará seis livros de sua autoria

O Novo Armazém (Rua da Estrela, 401, Praia Grande) será palco de mais um show da temporada Outros 400, capitaneada pelo compositor Joãozinho Ribeiro, que se apresenta acompanhado do Regional 400, formado pelos músicos Arlindo Carvalho (percussão), Celson Mendes (violão e direção musical), Fleming (bateria), Jeff Soares (contrabaixo) e Miranda Neto (trompete).
Na sexta edição da série, Joãozinho Ribeiro terá como convidados especiais os cantores Léo Spirro e Milla Camões. Participa ainda da noite o jornalista e poeta Herberth de Jesus Santos, que lançará alguns títulos de sua autoria, entre poesia e prosa.
Betinho – como o autor é conhecido entre os amigos – autografará aos interessados seis títulos de sua lavra: Antes que Derramem a Lua Cheia (crônicas), São Luís em PreAmar: Ainda Assim, há um Azul! (poesia), Peru na Missa do Galo (contos de Natal), A Segunda Chance de Eurides (novela),Serventia e os Outros da Patota (contos) e Ofício de São Luís: Bernardo Coelho de Almeida(Coração em Verso e Prosa).
Milla Camões, que prepara disco de estreia com direção musical de Celson Mendes, o “maestro” de Outros 400, participará com repertório que inclui samba, choro, jazz e bossa nova.
Cartola – A noite reverenciará o gênio de Mangueira, Angenor de Oliveira, o Cartola. O sambista será lembrado por ocasião do lançamento do disco de estreia de Léo Spirro: A canção de Cartola na voz de Léo Spirro, que tem direção musical de Arlindo Pipiu.
O cantor setentão será acompanhado pelo Regional Passeio Serenata: Arlindo Pipiu (violão sete cordas e direção musical), Robertinho Chinês (bandolim e cavaquinho), Chico Chinês (tantã) e Zé Carlos (pandeiro). No repertório, clássicos de Cartola, entre outros Alvorada, Cordas de aço, As rosas não falam e Autonomia, entre outros.
Com o passeio de tantos talentos, esta edição de Outros 400 certamente vai se transformar em uma grande jam – para ninguém botar defeito.
Serviço
O quê: Outros 400 – 6ª. edição.
Quem: o compositor Joãozinho Ribeiro, Regional 400 e convidados: o poeta e jornalista Herberth de Jesus Santos, os cantores Milla Camões e Léo Spirro e o Regional Passeio Serenata.
Quando: quinta-feira (6/10), às 21h.
Onde: Novo Armazém (Rua da Estrela, 401, Praia Grande).
Quanto: R$ 10,00.

1 de outubro de 2011

Cine Belas Artes: Angústia e Luto


O desfecho do caso Cine Belas Artes/SP é simbólico; nos lança no âmago da dialética do preservacionismo contemporâneo. Os paradoxos em que nos vemos encalacrados, superam nossas expectativas; parece mesmo que não temos condições de compreender o processo em sua totalidade, tal a angústia que produz. A sensação que dá, é a de que estamos num labirinto sem saída, perdidos em nossas fantasias, nostalgias e imaginação. Parecemos crianças! 

Para os que abraçaram o movimento de preservação do Cinema Belas Artes, fica a frustração e a desesperança. A razão instrumental, legal, técnica - fria, calculista, racional - venceu mais uma vez. Os dispositivos jurídicos que temos em mãos, para usar como instrumento de combate contra a destruição e a erosão cultural, são frágeis e só servem para "preservar" aquilo que se enquadra no dispositivo legal; é como se a preservação fosse um jogo de simulação, já pré-programado, pré-estabelecido: o novo, o inusitado, o anódino, o heterodoxo, não cabem na LEI! Só pode ser "tombado" o pre-visto no dispositivo, que se auto-protege contra o novo.

A Procuradoria Geral do Município de SP, expediu parecer sentenciando que o "tombamento" é "anti-constitucional"! Somos ingênuos e tolos! Os homens da LEI é que são racionais, nós somos "românticos"! 

Os conselheiros, do egrégio conselho CONPRESP, seguiram o parecer da PGM: "não há fundamento constitucional para promover o tombamento do 'lugar' dissociado da qualidade arquitetônica do edifício"!!! É LEI: ponto final! 

Foto Letícia Macedo
Apesar do DPH ter considerado que o bem possui "valor referencial, simbólico e afetivo", a plenária dos conselheiros do CONPRESP acatou integralmente o parecer da PGM.

Qual a lição tirar desse acontecimento! 

Poderíamos fazer uma lista enorme de casos semelhantes; e quantas perdas já houveram e quantas ainda ocorrerão; em nome da ordem técnica, constitucional e jurídica!

E o tal do registro do patrimônio "imaterial" (Acarajé, Pão de Queijo, etc.)? Serviria para quê? Apenas para aplacar a angústia dos nostálgicos, mais nada!

Esse mal-estar, esse desconforto, essa frustração terá que passar por alguma elaboração - uma terapêutica da memória! O luto da perda do Cine Belas Artes terá de ser elaborado de algum modo. Um caminho sempre procurado e ritualizado é o das bancas de defesa de monografias de graduação, e as diversas dissertações e teses universitárias que serão produzidas pelas academias e instituições de pesquisa; disseminando falas e mais falas, textos e mais textos, do luto institucionalizado... 

Mas, e o grupo que participou do Movimento em Defesa do Cine Belas Artes, o que vai fazer? Uma sugestão: continuar com os seminários sobre as formas de conservação, preservação e promoção cultural na atualidade! Talvez assim, mais conscientes dos limites "constitucionais", consigamos no futuro superar esses paradoxos da LEI! 

RADICAIS LIVRES 2011

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Razão Instrumental e Desencantamento do Mundo

O tema é fascinante, sem dúvida alguma. E o interessante é como nos colocamos diante dos fatos. De um modo quase inconsciente nos precipitamos em pressupor posições pré-estabelecidas, como num jogo marcado; com cartas marcadas. Tomamos as posições e, sem nos darmos conta, reproduzimos nossas crenças a partir dessas tomadas de posição no tabuleiro. 
Contudo, não se trata aqui de ser contra ou a favor da razão instrumental, de ser contra ou a favor do ordenamento jurídico e legal; se trata, sim, de refletir sobre a adequação destas convenções sociais as nossas demandas. É preciso desnaturalizar as leis - para não sermos positivistas ingênuos, ao menos. As leis podem ser draconianas, mas ninguém é obrigado a submeter-se a códigos legais ultrapassados, indefinidamente. Parece que acabamos por nos confundir nesse ponto. Os legisladores fazem leis, isso é certo, porém elas podem ou não ser cumpridas, pois são os costumes e usos da população e dos cidadãos, é que fazem a 'lei'. Quantas leis caem em desuso, são esquecidas, desaparecem, morrem? Muitas; e assim deve ser... 
Os ignorantes e analfabetos da lei dos legisladores, tem algo a dizer que merece a escuta; pois a 'sociedade', algumas vezes, se insufla contra o Estado, e as Leis... Mal-estar, angústia, revolta, revolução, mudança, transformação, nascem assim...
É interessante lembrar da Ditadura e da disciplina de OSPB, parece que tem algo a ver com a tal da Educação Patrimonial: 'educar' os analfabetos 'culturais' e 'patrimoniais' a respeitar a Lei. Todavia, o que nos interessa são os fatos, as novidades, o novo, a mudança de paradigmas; pois o mundo não para, é dinâmico, e novos problemas surgem.
Para os que estão satisfeitos e contentes com a ordem discursiva dominante, e seus parelhos ideológicos e jurídicos estabelecidos, o mundo parece pronto, acabado, justo, bem arrumado; para nós outros, os tais outsiders, os românticos, as crianças, os ignotos, etc., resta o nome da lei, o nome do pai (patri-mônio), provocando a defesa férrea, e draconiana, aos princípios legais em vigor. Isso parece edipiano demais; um pouco de psicanálise parece ser útil... A ordem simbólica pressupõe a transgressão: dai a sedução do desejo, a atração pelo proibido...
O Cine Paysandu no Rio de Janeiro foi tombado em 2008; é possível tombar, sim! Então, por que a defesa de uma razão instrumental que só promove o desapego, a indiferença, e a aversão? 
Que estranha apologia do desencanto! Subjacente a isso, percebemos bem as ambiguidades de uma modernidade a deriva! Como lembrou Hannah Arendt, através dos versos de Rene Char, parece que nossa mente ('moderna') já não funciona adequadamente; então, um pouco de segurança nas leis, para que o mundo pareça um lugar mais seguro, perene, e estável!
No entanto, a subjetividade aflora, o desejo irrompe; a dialética nos faz pensar: o desconforto é geral! Chega a ser desconcertante, para os chamados 'ignorantes' culturais, descobrir que ao reivindicarem uma ação cultural de preservação (com apelo no afetivo) revelam sua 'ignorância' e ingenuidade infantil. Receber como resposta a seu engajamento num embate preservacionista - a desqualificação de 'ignorantes' da lei, pode soar ainda mais pueril. O jogo da preservação só pode ser jogado por expertos e peritos? 
Paysandu e Belas Artes tem lições que merecem uma reflexão generosa e aberta. Mas para tal é necessário superar o momento de se colocar em posições predefinidas, e arriscar mais no pensamento. É preciso embaralhar mais as cartas desse jogo e evitar a defensiva contumaz. 
A atitude recalcitrante de desqualificar o contraditório, e evitar a escuta do que não está codificado e pré-definido, não ajuda. O Movimento pela preservação do Belas Artes se inspira na Constituição de 1988, invocando os tais direitos culturais e a tal da cidadania cultural. Talvez merecessem mais respeito as pessoas que promoveram esse trabalho organizado. 
Existe muito mais coisas entre o céu e a terra, e muitas luas novas, no firmamento da razão...

Radicais Livres 2011. 

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CONPRESP, PGM E DPH: Clivagem Importante...

Ocorreu uma interessante clivagem no interior do CONPRESP, no caso da decisão sobre a possibilidade de 'tombamento' do Cine Belas Artes de SP. De um lado tivemos divulgado que o DPH encaminhou parecer favorável, alegando que o bem possui 'valor afetivo', de acordo com as novas formas de acautelamento sugeridas e indicadas pela Constituição Federal de 1988. De outro lado tivemos o parecer da Procuradoria Geral do Município, dominada pela lógica legal, no qual se baseou para julgar a suposta  'inconstitucionalidade' do pleito encaminhado por parte da população organizada: http://querobelasartes.blogspot.com/
Sobre essa questão, vale ler um comentário bem interessante de Raquel Rolnik, que tem a vantagem de ser justa na colocação do problema, na medida em que tem consciência das vicissitudes técnicas e legais que tal pedido de tombamento provocou.

Tombamento do Cine Belas Artes: complexidade do tema desafia o Conpresp



 O pedido de tombamento do Cine Belas Artes junto ao Conpresp (Conselho Municipal do Patrimônio da Cidade de São Paulo) significa para este órgão – e para a cidade que este representa – o desafio de atualizar a noção de patrimônio histórico dos paulistanos, aproximando-a  muito mais daquilo que a Constituição de 1988 definiu como valor a ser preservado:  aquilo que carrega um forte significado para os cidadãos.
Esta tarefa não é simples: implica deslocar um olhar focado em um suposto valor excepcional da arquitetura de um lugar para incluir uma pluralidade de valores – como, por exemplo, a importância para a cidade do uso simbólico de uma esquina (Av. Paulista X Rua da Consolação) como ponto de formação/fruição de milhares de cinéfilos.
O “caso Belas Artes” é talvez um dos primeiros que o Conpresp enfrenta nesta direção – tanto é inovador o pedido encaminhado ao órgão pelos defensores da permanência do cinema naquele local, quanto o desafio conceitual e teórico que o Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo ousou enfrentar, mostrando que, na prefeitura de São Paulo, existem profissionais preparados para atualizar conceitos e práticas.
A votação do processo está prevista para acontecer 13 de setembro.

O movimento em defesa do Cine Belas Artes protocolou um pedido de adiamento desta votação, já que, tendo o processo ficado vários meses na Procuradoria do Município, os interessados tiveram apenas uma semana para ler todo seu conteúdo e preparar sua intervenção.
Trata-se de uma reivindicação mais do que justa e correta: este processo e esta votação, como disse acima, vai muito além do tema do Belas Artes em si mesmo, representando uma oportunidade de atualização/renovação de uma questão fundamental para a cidade de São Paulo (o que é fundamental para a cidade preservar?), principalmente em tempos de enorme dinâmica imobiliária e de transformações no uso do solo da cidade.
Em tempo: na próxima quinta-feira, acontece, na Câmara Municipal de São Paulo, uma audiência pública e uma Noite em Homenagem ao Cine Belas Artes.
Radicais Livres 2011
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2008: Paissandu, o ''cinema dos intelectuais'', é tombado no Rio

NO RIO O PAISSANDU FOI TOMBADO!!!!!

Márcia Vieira - O Estadao de S.Paulo

A história do cinema Paissandu, localizado no Flamengo, zona sul do Rio, chegou ontem a um final feliz. Fechado há um mês, quando o grupo Estação Botafogo anunciou que não tinha condições de continuar administrando o cinema sem um patrocinador, o Paissandu foi tombado pelo prefeito Cesar Maia como patrimônio cultural da cidade.
Intelectuais e cineastas, alguns remanescentes da chamada Geração Paissandu, que deu fama ao lugar nos anos 60 lotando as sessões dos filmes do francês Jean-Luc Godard, tinham iniciado uma campanha pelo tombamento temendo que a família Valansi, dona do imóvel e de outras oito salas na cidade, vendesse o cinema.
Cláudio Valansi, um dos herdeiros dos fundadores do Paissandu, disse ontem que o tombamento era desnecessário. "Nunca pensamos em vender o cinema para igreja evangélica ou qualquer outro fim como andaram falando", disse. Valansi anunciou que, nos próximos dias, a família e o grupo Estação Botafogo vão assinar um acordo com o Serviço Social do Comércio (Sesc). "O Estação vai administrar e o Sesc vai patrocinar o Paissandu por dez anos. Só estamos acertando questões burocráticas", afirmou.
Depois de passar por obras de modernização, o Paissandu vai reabrir com uma programação de filmes de arte que marcaram a sua história. "A idéia deles é manter uma sala única e não dividir em multiplex. Será essencialmente um cinema de arte. Espero que o Sesc fique lá por mais 30 anos", disse Valansi.
GLAUBER E TRUFFAUT
Inaugurado em dezembro de 1960, o Paissandu é o único cinema brasileiro que carrega na sua história a façanha de ter ajudado a formar uma geração de cinéfilos. Em seu auge, entre os anos 1965 e 1970, em plena ditadura militar, jovens lotavam as salas para ver o último filme de Godard, Truffaut e de jovens cineastas do cinema novo, como Glauber Rocha. Em 1990, já dando prejuízo, foi arrendado pelo grupo Estação.
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Radicais Livres!
Entre o Passado e o Futuro: a dialética!

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Quem achou que a novela sobre o futuro do Cine Belas Artes havia chegado a um melancólico fim na semana passada, com a decisão do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico) de não abrir o processo de tombamento do cinema, enganou-se.
O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico), que é um órgão estadual, depois de uma longa reunião esta manhã, decidiu pela abertura do processo de tombamento não apenas do cinema, mas também do antigo bar Riviera (na esquina oposta à do Belas Artes) e da passagem subterrânea da Rua da Consolação, que liga as duas esquinas.
É muito interessante essa posição do Condephaat que incluiu não apenas o cinema, mas toda a configuração daquela esquina da Rua da Consolação com a Av. Paulista. Por sinal, o edifício Anchieta, onde ficava o Riviera, foi projetado pelo escritório dos irmãos Roberto, em 1941, e é um importante exemplar da arquitetura modernista em São Paulo.
É importante lembrar, no entanto, que a abertura do processo de tombamento pelo Condephaat não significa que esses lugares e seus usos serão de fato preservados. Quando este órgão abre um processo, significa que ele ainda vai estudar e analisar a possibilidade do tombamento, mas enquanto essa avaliação não é concluída e votada no Conselho, os proprietários dos imóveis não podem descaracterizá-los nem fisicamente nem quanto ao seu uso. Qualquer coisa que eles decidam fazer também depende de autorização do Condephaat neste período.
Por outro lado, é preciso dizer que a decisão do Conpresp, na semana passada, de não abrir o processo de tombamento do Belas Artes, apesar do parecer favorável do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, foi muito estranho. Especialmente porque, sem discutir o teor deste parecer, o Conpresp adotou a interpretação da Procuradoria Geral do Município (PGM) de São Paulo, que considerou inconstitucional o tombamento de um uso de um edifício cuja arquitetura não é significativa.
A posição da PGM revela um total desconhecimento das leis que regulam o patrimônio histórico em nosso país. O argumento é completamente absurdo e mostra que a PGM ignora que há muitos anos órgãos municipais, estaduais e federais têm tombado inúmeros imóveis que não apresentam nenhum interesse arquitetônico. Vejam o exemplo da Fábrica de Cimento Perus, em São Paulo, que foi tombado pelo significado histórico daquele lugar para a população da cidade ou inúmeras casas onde viveram pessoas importantes da nossa história.
No entanto, mais lamentável do que os argumentos da PGM é o Conpresp aceitá-los e adotá-los como sua posição. Como eu já disse, existem inúmeros bens tombados em função única e exclusivamente do seu uso. A abertura do processo de tombamento pelo Condephaat, independente de seu resultado, significará ao menos a possibilidade de realização de um debate mais qualificado sobre o futuro da esquina da Paulista com a Consolação e sua importância para a vida cultural e a memória da cidade.
Para comemorar a notícia, o Movimento pelo Cine Belas Artes convida para uma festa em frente ao cinema na quarta-feira (5), às 19h.