Edital MCT/CNPQ 14/2008 Universal Processo 470333/2008-1



8 de dezembro de 2008

TEATRO DAS MEMÓRIAS


TEATRO DAS MEMÓRIAS: Cidadania e direitos.

Alexandre Fernandes Corrêa - UFMA
alex@ufma.br; alexandre.correa@pq.cnpq.br

Vivemos em tempos difíceis! Mas, não será por isso que deixaremos de tentar manter algum princípio ético de conduta: não vale tudo, a todo custo! De nossa parte é cada vez mais urgente observarmos as atuais contradições entre o dizer e o fazer, em nossa sociedade. Hoje mais do que nunca impera o velho lema patriarcal: “- Faça o que eu digo, não faça o que eu faço!”.
Neste início de dezembro, aqui em São Luís, algo inesperado aconteceu. Pessoas e instituições, em nome da “educação patrimonial” cometeram atos que merecem o crivo e avaliação equilibrada dos que ainda têm um pouco de noção de justiça e sabem manter alguma integridade nas ações e nas idéias. Trata-se do (re-)lançamento do Projeto chamado de Teatro das Memórias. Lamentável acontecimento que não promove a “educação” nem ensina sobre o “patrimônio”. Por quê? Ora, como um grupo de pessoas e instituições que dizem que estão “preservando” a “cultura” e o “patrimônio” na cidade, através de programas de “educação” para crianças e jovens, poderia estar cometendo o pior de todos os equívocos em termos do respeito aos direitos, a propriedade intelectual e a cidadania?
O Grupo de Pesquisas e Estudos Culturais da UFMA, desde 2004, vem promovendo pesquisas e projetos de extensão universitária na ilha de São Luís, sob o título de Projeto de Ação Cultural Teatro das Memórias. A Companhia Vale do Rio Doce, a Fundação Municipal do Patrimônio Histórico (FMPH) e a 3aSR do IPHAN, desde a mesma data promoveram um Projeto com o nome de “Viver o Desterro”; que logo abandonaram assim que se viu que não levava a lugar algum, a não ser promover os seus diretores e coordenadores de plantão. A comunidade do Desterro, através de sua Associação de Moradores, demandou, então, ao Grupo de Pesquisas e Estudos Culturais (GPEC) da UFMA a continuidade de uma ação sincera e comprometida com a comunidade. E assim foi feito. Formulamos e elaboramos o Projeto Políticas do Patrimônio e da Memória (UFMA-2004), depois incorporado ao Projeto Teatro das Memórias, parte integrante do Projeto maior “TEATRO DAS MEMÓRIAS SOCIAIS E DO PATRIMÔNIO BIOCULTURAL: Pesquisa Antropológica na Região Metropolitana de São Luís”; que é um projeto de pesquisa e extensão universitária aprovado no CONSEPE (Resolução nº. 463/2006 – 31.05.2006 – UFMA/CNPq). Desses trabalhos esse pesquisador, que agora escreve esse artigo, jamais recebeu qualquer remuneração ou verba pública.
Assim, causa espécie e profunda indignação assistirmos pessoas e instituições renomadas cometendo atos que atentam contra a própria lição pedagógica que julgam difundir com o coração cheio de “boas intenções”. Lamentável comportamento de pessoas e instituições que, sem o devido cuidado, estão destruindo os princípios da cidadania e do direito que julgam estar defendendo e promovendo. São contradições censuráveis em pessoas e instituições que enganadas nas idéias e na sua retórica, revelam nas suas práticas que, na verdade, não têm noção do que fazem. Diria alguém: “Perdoe-os, pois não sabem o que fazem”!
Todavia, como podem continuar agindo, em nome da “educação” e do “patrimônio”, pessoas e instituições que não sabem “preservar” a ética, o patrimônio, a memória, a cultura, etc, nas suas ações mais cotidianas? Como podem essas pessoas e instituições se utilizarem de impostos e verbas públicas em nome desses bens valiosos da população brasileira e maranhense, se não sabem respeitar e cumprir com as leis vigentes, sobre os usos e apropriações das idéias, projetos e valores de outras pessoas, grupos e comunidades?
Nós do Grupo de Pesquisa e Estudos Culturais (GPEC) pensamos bastante em como iríamos agir contra essas atitudes de má fé e lesa dignidade. Depois de refletirmos achamos por bem que inicialmente não iremos contestar na justiça essas pessoas e instituições, e que vamos apenas nos manifestar à sociedade na intenção de sugerir que, em nome do respeito às distinções entre nossas práticas e atitudes, se retire o nome “Teatro das Memórias” do “projeto” (re)lançado nesse dia quatro de dezembro. Desejamos que esse grupo nomeie suas práticas e defina seus conceitos e métodos a partir de seu próprio trabalho, deixando de se apropriar passivamente das idéias, práticas e valores construídos por pessoas, grupos e comunidades. Para promover o patrimônio cultural e uma suposta “educação patrimonial” supõe-se que esse grupo já esteja consciente e já tenha aprendido a respeitar os valores e idéias das outras pessoas e grupos. A falta de reconhecimento do trabalho de pesquisa e das ações culturais promovidas por anos a fio, negados e apropriados por um grupo sem lastro científico e político, espelha bem a falta de noção de preservação dos verdadeiros valores patrimoniais dos grupos, instituições e pessoas.
São quatro anos de trabalho de pesquisa e extensão, com conceitos e métodos completamente distintos dos que estão sendo praticados e executados por esse grupo de pessoas. O Projeto original “Teatro das Memórias” elaborado desde 2004, emprega conceitos e métodos desenvolvidos a partir da leitura e estudos em vasta bibliografia, entre diversas dissertações e teses. A principal referência teórica que funda a própria idéia de investimento na gestão democrática e política do ‘teatro das memórias’ sociais é a obra do sociólogo francês Henri Pierre Jeudy – jamais referido por essas pessoas que agora se dizem continuadoras desse trabalho de pesquisa e extensão univerisitária original. O GPEC, sob a coordenação desse pesquisador, criou um método específico de ação cultural a partir desses estudos teóricos e empíricos. Desse modo, trata-se de um trabalho intelectual com autoria e método, que está sendo usado e deturpado indevidamente.
Através desse documento escrito em forma de artigo faremos publicar nos veículos de comunicação da cidade, do Estado e do país, contestando publicamente essas pessoas e instituições contra o uso indevido do nome e do trabalho de pesquisa da Universidade. Divulgaremos artigos críticos em nome dos direitos difusos e coletivos, das comunidades e dos grupos, das universidades e instituições de preservação do patrimônio biocultural, aos quais estamos filiados e seguimos seus princípios. Nosso Grupo de Pesquisas e Estudos Culturais é filiado a Associação Brasileira de Antropologia, ao ICOMOS-BR, ao Fórum e Grupo de Trabalho do Patrimônio Cultural da ABA, ao Observatório Social, ao Conselho de Cultura do Estado do Maranhão, etc., nos quais continuaremos a defender a dignidade e o respeito aos valores culturais e patrimoniais depositados nas memórias sociais da população maranhense e brasileira.
Nosso compromisso é com uma política cultural democrática e verdadeiramente autônoma; que nos prepare para viver e gerir uma vida melhor nessa cidade. Cidade e Estado que ainda precisam encontrar um destino mais democrático e justo. Constatamos, então, que ao perpetuarem essas práticas despóticas, autoritárias e perversas, como essas que agora denunciamos, essas instituições e pessoas se tornaram o maior obstáculo que hoje temos que enfrentar para inaugurar melhores tempos em nossa cidade e Estado.
Nosso apelo é que essas pessoas e instituições parem com estas atitudes cindidas e perversas – presas as raízes mais reacionárias do patriarcalismo colonial. Desejamos que essas pessoas e instituições deixem de continuar mantendo fundo o fosso que separa as suas ações de sua retórica; do que fazem e do que dizem.

EM TEMPO: Projeto aprovado pelo EDITAL Universal CNPq-2008.
alexandre.correa@pq.cnpq.br

Atigo Publicado no Jornal Pequeno, Domingo, 25 de Janeiro de 2009.
http://www.jornalpequeno.com.br/2009/1/25/Pagina97244.htm


TEATRO DAS MEMÓRIAS: cidadania e direitos culturais

Veja Artigo:

Rastros de Apropriação do Projeto ao Port-Fólio do IPHAN.


Veja Vídeo Produzido pelo IPHAN:

Site em Língua Russa:

Site Vídeos Brasil:

Livro Produzido pelo IPHAN, com nome do Projeto:
Portfólio do DESIGN OCABIO:

OBSERVAÇÃO:
Em nenhum momento faz-se alusáo ao fato de que o Projeto Teatro das Memórias foi criado pelo Grupo de Pesquisa e Estduso Culturais da UFMA, coordenado pelo Prof. Dr. Alexandre Fernandes Corrêa.

21 de outubro de 2008

PROJETO AÇÃO CULTURAL TEATRO DAS MEMÓRIAS


PROJETO DE PESQUISA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

AÇÃO CULTURAL EM BAIRROS

HISTÓRIA DE VIDA
MUSEU DAS CRIANÇAS
MEMÓRIA DE IDOSOS

TEATRO DAS MEMÓRIAS: entre o passado e o futuro.

Artigo originalmente apresentado na VIª Semana Nacional dos Museus, cujo tema central foi “Museus como Agentes de Mudança Social e Desenvolvimento”, no Memorial do Palácio Cristo-Rei, na Universidade Federal do Maranhão.

Introdução

O tema da VIª Semana Nacional dos Museus no Brasil, no ano de 2008, foi “Museus como Agentes de Mudança Social e Desenvolvimento”. Esse tema também foi o escolhido para o Ano Ibero-Americano de Museus. O presente artigo é uma elaboração em texto escrito da conferência apresentada no Memorial do Palácio Cristo-Rei, da Universidade Federal do Maranhão, que programou exposições e atividades ligadas ao evento nacional (Posteriormente as idéias aqui apresentadas foram colocadas no I Encontro de Estudos Culturais, ocorrido em São Luís, maio de 2008). Portanto, esse texto possui as características de uma articulação de idéias programáticas com algumas indicações prospectivas para a ação cultural futura.
Logo de início é necessário salientar que é muito salutar as Universidades brasileiras vincularem-se e integrarem-se ao processo de debates e reflexões sobre a função social dos Museus na sociedade local e nacional, assim como no continente, contribuem para o processo de democratização das políticas culturais na contemporaneidade. É preciso, cada vez mais, refletir sobre a contribuição que as Universidades podem dar para a crescente demanda pela democratização do acesso aos museus em nosso país, além da atenção as demandas pela transformação de suas funções e papéis sociais e culturais na atualidade.
Num campo, espaço ou área do conhecimento dominada por um forte conservadorismo é muito importante aprofundar a disposição de se renovar os paradigmas de atuação e das práticas museológicas atuais. “Precisamente porque o patrimônio cultural se apresenta alheio aos debates sobre a modernidade ele constitui o recurso menos suspeito para garantir a cumplicidade social. Esse conjunto de bens e práticas tradicionais que nos identificam como nação ou como povo é apreciado como um dom, algo que recebemos do passado com tal prestígio simbólico que não cabe discuti-lo. As únicas operações possíveis – preservá-lo, restaurá-lo difundi-lo – são a base mais secreta da simulação social que nos mantém juntos. Frente à magnificência de uma pirâmide maia ou inca, de palácios coloniais, cerâmicas indígenas de três séculos atrás ou à obra de um pintor nacional reconhecido internacionalmente, não ocorre a quase ninguém pensar nas contradições sociais que expressam. A perenidade desses bens leva a imaginar que seu valor é inquestionável e torna-os fontes de consenso coletivo, para além das divisões de classe, etnias e grupos que cindem a sociedade e diferenciam os modos de apropriar-se do patrimônio. Por isso mesmo, o patrimônio é o lugar onde melhor sobrevive hoje a ideologia dos setores oligárquicos, quer dizer, o tradicionalismo substancialista” (Canclini, 2003: 160). Mas, não deixa de parecer paradoxal e surpreendente que os Museus – lugares tradicionalmente estabelecidos como locais de conservação e preservação do antigo, do obsoleto e do passado – passem a vir a ser lugares de reflexão sobre as transformações culturais, o desenvolvimento e a inclusão social. Todavia, como se sabe algo é considerado ‘paradoxal’ até o momento em que se encontra a lógica subjacente que ainda estava oculta, revelando a relação e o vínculo encoberto. Destarte, esse é um desafio interessante para todos nós e integra uma dialética fecunda para o pensamento sobre os estudos culturais contemporâneos.

Atenção!
Cuidado com o Plágio e a Cópia não autorizada do Nome desse Projeto e dos Conceitos e Concepções dessa Ação Cultural. Direitos Reservados ao Autor do Projeto.
Em São Luís existe um 'Grupo' que está vendendo um projeto com o mesmo nome, mas que não foi autorizado. Logo sofrerá interpelação jurídica adequada.

13 de outubro de 2008

VISITE O BLOG DO GRUPO DE PESQUISAS & ESTUDOS CULTURAIS


Gentrificado.
Digital, Marcelo Min/Agência Fotogarrafa, Gentrificação, 2006/0207, Largo da Batata - Gentrificação.

Gentrificado - Gentrificação:

"Processo de restauração e/ou melhoria de propriedade urbana deteriorada realizado pela classe média ou emergente. Geralmente resultando na remoção de população de baixa renda".

DIREITO A CIDADE: O Futuro das Cidades e a Luta por Espaço
Trechos do texto de Jean-Pierre Garnier. Le Monde Diplomatique Brasil - Março de 2010.
A chegada, aos bairros operários, de grupos sociais pertencentes às classes de maior poder aquisitivo é vista, com frequência, como uma invação. Para a maior parte dos moradores afetados, essa mudança significa especulação financeira e imobiliária, o que acelera sua expulsão e substituição por moradores mais abastados.

A moda 'patrimonialista'.
Não se trata mais de fazer do espaço urbano tabula rasa como na época da 'renovação-escavadeira', quando pedaços - ou bairro inteiros - da cidade eram considerados 'insalubres' e derrubados para 'liberar terrenos' propícios ao florescimento de imóveis de 'categoria' com finas residenciais ou comerciais. As ruas tortuosas e estreitas, herdadas ao longo dos séculos também foram submetidas ao mesmo processo, dando luagar a 'anéis viários' e 'radiais' para adaptar a cidade ao automóvel. Atualmente, a palavra de ordem não é 'destruição' - salvo um ou outro edifício 'irrecuperável' -, e sim 'reabilitação', 'regeneração', 'revitalização' ou ainda 'renascimento' (em São Luís usa-se o termo 'reviver'). Em voga entre aqueles que ocupam cargos ligados à manutenção e à reorganização das cidades, essa terminologia visa sobretudo dissimular uma lógica de classe: reservaros espaços 'requalificados' às pessoas de 'qualidade'. "Todos esses termos que começam por 're' são a priori positivos para a cidade, mas excluem completamente a questão social", nota um geógrafo belga. "Quando um bairro torna-se descolado e entra na moda, isso implica que parte dos moradores será 'descartada'. A região 'melhora', mas não para as mesmas pessoas". Dito de outra forma, se há 'reforma urbana', ela visa antes 'renovar' a população local para que os moradores das zonas centrais dos grandes conglomerados urbanos possam exercer sua vocação: se impor como habitantes de 'metrópoles' dinâmicas e atrativas.
ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA
Ainda que efetuada progressivamente, a chegada de grupos sociais pertencentes às classes assalariadas de maior poder aquisitivo e profissionais liberais em bairros operários é vista, com frequência, como invasão pelos habitantes originais. Para a maior parte dos moradores afetados, essa mudança significa especulação financeira e imobiliária, o que acelera sua expulsão e substituição no espaço por citadinos mais abastados e educados, desejosos de constituir uma identidade residencial que esteja de acordo com a identidade social.
Gentrificação
 A 'gentrificação' não atinge somente o espaço construido: afeta também o espaço político e, em particular, a natureza dos partidos políticos.
Jean-Pierre Garnier. Autor de Une Violence Éminemment Contemporaine: essais sur la ville, la petit bourgeoiese intellectuelle et l'éffacemente des classes populaires. Agone, Marselha, 2010.

BLOG COM INDICAÇÕES DE LEITURAS, NOTÍCIAS, TEMAS DE PESQUISA, PUBLICAÇÃO, ETC

SOBRE ESTUDOS CULTURAIS, PATRIMÔNIO CULTURAL, MEMÓRIA SOCIAL, ETC.

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8 de outubro de 2008

LANÇAMENTO DE LIVRO & ENTREVISTA



LANÇAMENTO LIVRO PATRIMÔNIOS BIOCULTURAIS

Lançamento do livro Patrimônios Bioculturais: Ensaios de Antropologia do Patrimônio Cultural e da Memória Social. São Luís: EDUFMA-Núcleo de Humanidades, 2008.

Foi no Dia 02 de outubro de 2008, às 17:30h, Auditório A do CCH-UFMA.

Autor:

Alexandre Fernandes Corrêa - UFMA

PATRIMÔNIOS BIOCULTURAIS: ENSAIOS DE ANTROPOLOGIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL E DAS MEMÓRIAS SOCIAIS

ÍNDICE
PREFÁCIO – INTRODUÇÃO –
CAPÍTULO I – PATRIMÔNIO EM PERSPECTIVA
CAPÍTULO II – ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS & CONCEITUAIS
CAPÍTULO III – MEMÓRIA SOCIAL & PATRIMÔNIO
CAPÍTULO IV – PATRIMÔNIOS BIOCULTURAIS
CAPÍTULO V – PATRIMÔNIOS, MUSEUS & SUBJETIVIDADES
CAPÍTULO VI – SOCIEDADE ANÔNIMA & URBANIDADE ENFURECIDA
CAPÍTULO VII – NOVOS PATRIMÔNIOS & NOVOS MUSEUS
CONSIDERAÇÕES FINAIS – A GESTÃO POLÍTICA DO TEATRO DAS MEMÓRIAS
PRÓLOGO – O ‘COMPLEXO DE DÉDALO’ EM UMA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

São Luís: EDUFMA-Núcleo de Humanidades, 2008.

COMUNIDADE VIRTUAL DE ANTROPOLOGIA (CVA) –
http://www.antropologia.com.br/

ENTREVISTA AO AUTOR DO LIVRO

PATRIMÔNIOS BIOCULTURAIS: ENSAIOS DE ANTROPOLOGIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL E DAS MEMÓRIAS SOCIAIS
Autor: Alexandre Fernandes Corrêa - UFMA

Entrevista por Gláucia Buratto Rodrigues de Mello

Perguntas:

1. Gláucia: Alexandre, como foi o trabalho feito para a publicação de seu último livro?
Alexandre: Gláucia, primeiro é uma satisfação participar dessa entrevista, pois nossa amizade já tem longa data e é uma grande alegria poder compartilhar com vc esse momento. Esse livro é resultado de um longo trabalho que começou logo após a defesa da tese, na PUC/SP, em 2001, e que continuou com a publicação em edição limitada de uma versão preliminar do texto academista original. Esse livro que lanço agora, recebeu um tratamento mais rebuscado. Além disso ele está acrescido de textos que foram publicados e apresentados em revistas, em anais de eventos e congressos, na Internet, etc, no decorrer desses sete anos.

2. Gláucia: Qual a importância que vc vê na publicação do seu livro?
Alex: Bem, estava lendo recentemente José Ortega Y Gasset, e esse grande filósofo espanhol escreveu algo que me impressionou pela sinceridade e verdade. No texto Rebelião das Massas, ele escreveu que uma “excelente ocasião para praticar a obra de caridade mais adequada a nosso tempo; é não publicar livros supérfluos”. Eu creio que esse livro que publico agora não é um livro supérfluo, pois apresenta uma contribuição original, genuína e autêntica de um pesquisador independente. Creio que, sem querer ser desagradável, há muita mesmice e repetição de idéias dos supostos ‘centros’ do pensamento antropológico, sobre o tema do patrimônio cultural e da memória social. Nós da suposta ‘periferia’ somos um tipo de ‘complexados’ e nós, brasileiros em especial, do ‘terceiro mundo’ tendemos a imitação e repetição obsedada. Vence quem repete melhor – o mais talentoso entre nós, é aquele que empreende uma ‘franquia’ da moda, hoje rentável no capital acadêmico, de algum autor ‘estrangeiro’. Nesse livro não se encontrará isso. O que certamente decepcionará os que são ávidos por simulações ou emulações intelectuais. Pois, se encontra nessa publicação um exercício de imaginação sociológica brasileira e latino-americana, que tenta pensar as singularidades de nossa realidade; que as importações intelectuais não dão conta. Mas, também se trata da publicação de ensaios que reúnem reflexões acerca de temas que estão em voga num contexto de acelerado processo de mundialização cultural. Assim, acredito que se trata de uma boa ferramenta para estudantes e pesquisadores cultivarem debates fecundos sobre a gestão política das memórias sociais na atualidade.

3. Gláucia: Alexandre, então, se não se trata de um livro supérfluo e repetitivo, qual, ou quais são as contribuições originais que ele traz ao debate?
Alex: Primeiramente, o livro procura contribuir com a superação de um paradigma ainda muito poderoso que é o cartesianismo, isto é, esse modo de pensar que fragmenta, separa e compartimentaliza o mundo. Por isso o livro chama-se Patrimônios Bioculturais. Nesse sentido, encontra-se nesse livro uma tentativa clara de enfrentar essa visão de mundo que se pretende perpetuar reproduzindo indefinidamente dicotomias e antinomias do tipo Natureza/Cultura, Material/Imaterial, Tangível/Intangível, e assim por diante. Isso é, eu creio, uma questão que no livro aparece de modo preciso e que não vejo ser enfrentado nas publicações mais recentes sobre esses temas, tão importantes, ligados a política cultural. Outra coisa que se encontra no livro, e que parece ser outra contribuição significativa, é a ousadia de apresentar alternativas a esse paradigma. Não se trata de só criticar, mas de apresentar também saídas para essas ‘encruzilhadas do labirinto’ em que nos encontramos hoje, parafraseando Castoriadis. O livro é crítico, mas também é propositivo e sugere prospectivas mais democráticas para a ação cultural.

4. Gláucia: Nesse seu trabalho crítico, quais são as principais referências teóricas que vc destacaria?
Alex: Bem, são muitas as fontes do pensamento crítico exercitado no livro, mas eu destacaria o legado da Teoria Crítica, com incursões no pensamento de Walter Bejamin e também de J. Habermas; nos textos de Castoriadis, já referido ainda a pouco; Edgar Morin, em relação a crítica ao cartesianismo, quando se aproxima da Epistemologia da Complexidade e nesse mesmo caminho, tem muitas afinidades, nesse livro, com a produção dos autores ligados aos Estudos Culturais. Não poderia deixar de fazer referência a Marcel Mauss, que na seqüência dos trabalhos de C. Lévi-Strauss, serviram de base para o enfrentamento da visão fragmentadora.

5. Gláucia: Alexandre, então, seria o momento para vc falar um pouco sobre o conceito de patrimônios bioculturais, que vc considera a sua contribuição mais valiosa ao debate sobre gestão e promoção dos patrimônios naturais e culturais e das memórias sociais.
Alex: Sim, é verdade, considero que esse é um ponto forte do conjunto desses ensaios. De imediato já gostaria de fazer uma referência importante a um professor e pesquisador, que fez o prefácio do livro, e que é o grande responsável pela formação desse conceito no processo da pesquisa de doutorado, realizado nos anos de 1997 a 2001. Trata-se do professor Edgard de Assis Carvalho. Foi nas conversas e diálogos com ele que surgiu esse conceito. As idéias não são propriedades de autores, elas estão vivas no mundo das idéias, como diz Edgar Morin, na noosfera. E esse conceito surgiu como uma noção plástica que incorpora realidades tidas como separadas, pelo paradigma cartesiano fragmentador. Na verdade, esse conceito tem uma herança que vem desde Marcel Mauss, Lévi-Strauss e Merleau-Ponty e passa por Morin, Bateson, Prigogine, Francisco Varela, Fritjof Capra, e muitos outros que trabalham com a epistemologia da complexidade e os estudos culturais. É um conceito que rebate essa moda triunfante das dicotomias de patrimônios materiais e imaterias, tangíveis e intangíveis, naturais e culturais – é um conceito formulado por um pensamento que se insurge contra esses reducionismos. De modo bem geral, pode-se dizer que se trata de um conceito re-integrador, que remete a “recomposição do todo”, como afirmava M. Mauss.

6. Gláucia: Essa ‘insurreição’ de que vc fala, do que se trata, mais exatamente?
Alex: Bem, se trata de um problema político. Nesse domínio do patrimônio, da memória e da cultura, tem muito conservadorismo, como aponta Canclini, em Culturas Híbridas, é nesse campo e espaço social que as oligarquias mais reacionárias se instalam (veja o caso do Maranhão, que é exemplar); então, como não poderia deixar de ser no que se refere a política cultural, esses conceitos que estamos introduzindo no debate, são instrumentos para uma insurreição do pensamento, contra essas formas domesticadoras e fossilizantes do excessivo processo de patrimonialização que estamos vivendo. Nesse sentido, esses textos trilham as veredas da crítica abertas pela reflexão mais recente de Henri-Pierre Jeudy. Causa muita espécie vc se colocar contra esse modismo patrimonialista atual, que pretende recolher dividendos na onda da ‘turistificação’ e ‘gentrificação’ alucinada dos sítios históricos brasileiros. Esse livro é uma forma de enfrentamento duro contra essa ideologia.

7. Gláucia: Alexandre parece que nesse ponto vc se choca com a política que está em voga, já há 10 anos, e que comumente se tem como uma renovação e novidade na área da preservação do patrimônio. Como vc se coloca nesse contexto?
Alex: Sua pergunta é excelente, pois é esse o centro, o ponto chave das distinções que meu trabalho tem aprofundado nesses últimos anos. A política preservacionista hoje em voga parece ter muitos apoiadores e entusiastas, mas ocorre que historiadores, sociólogos e antropólogos estão incorrendo em erro quando pensam que uma ideologia do ‘patrimônio imaterial’ pode vir a ser a salvação para suas pretensões disciplinares. Quando pensam que ‘finalmente’ temos um reconhecimento do nosso trabalho e importância profissional, estão deixando de refletir sobre as conseqüências epistemológicas desse reducionismo consentido. Afinal, todos nós sabemos que não há bem material que não seja simbólico e carregado de significados ‘intangíveis’; qualquer objeto material está carregado de simbolismo. Então, não tem como separar, nem privilegiar uma das dimensões, nem se alegrar com uma coisa dessas. O antropologismo, ou o sociologismo, é tão pernicioso quanto o materialismo, ou o idealismo. Não se supera um paradigma reificando-o e, assim, contribuindo para sua perpetuação. É necessário um novo modo de pensar, numa transformação efetiva da concepção de patrimônio. Creio que essa satisfação em se tornar mais um tecnocrata do patrimônio, com uma nova especialização reconhecida e canonizada, produzirá muitos equívocos. E, vc tem razão, terei que ter muita paciência, pois esse estado de coisas tende a demorar muito tempo para se transformar. Apesar de eu achar que o tempo trabalha a nosso favor.

9. Gláucia: Parece que agora eu entendi melhor a idéia de ‘complexo de dédalo’ que vc apresenta no prólogo do livro...
Alex: É realmente isso! O que chamei de ‘dédalos do patrimônio’ são estes ‘parques’ ‘turistificados’ e ‘gentrificados’ que estão sendo criados nos centros históricos brasileiros e latino-americanos. São os novos brinquedos dos ‘tecnocratas do patrimônio’; o curioso é que parece que os antropologistas e sociologistas estão aderindo de modo acrítico a essa ideologia. É o que Castoriadis chamou de Encruzilhadas do Labirinto; precisamos de superar as heteronomias que estão se impondo de modo tirânico. É preciso mais autonomia e reflexão independente.

10. Gláucia: Vc não considera que nesse ponto encontrará muitas dificuldades de aceitação do seu trabalho, já que está enfrentando um modo de pensar ainda dominante e muito disseminado atualmente nas instituições de cultura e do meio ambiente?
Alex: Já estou detectando muita resistência, é verdade. Mas, essa é uma dificuldade, ou um risco, que um pesquisador não pode se furtar de passar, afinal, foi por meio de um trabalho profundo e criterioso que se chegou a essa nova hipótese, a essa nova forma de pensar a política cultural e ambiental. A proposta do livro é de oferecer uma crítica, mas também oferece uma sinalização nova e alternativa, em nome do que poderia ser diferente e realmente inovador. Oferece um novo paradigma re-integrador, que defende a re-unificação do campo epistêmico; isso pode provocar muitas resistências, mas faz parte do processo de avanço do conhecimento: são os obstáculos epistemológicos que se apresentam no momento. Já estou há mais de 10 anos nessa trilha, não tem problema se as resistências ainda são fortes e que as reações venham a ser recorrentes: o conformismo é geral. O importante é ser honesto com seu próprio trabalho e apresentar a sociedade alternativas legitimas para uma nova gestão política e democrática do teatro das memórias sociais. Nesse sentido político uma publicação universitária ganha uma importância enorme, só numa universidade pública é que eu consegui acolhimento para estas reflexões livres. Agradeço muitíssimo essa chance de apresentar idéias independentes e autônomas. Agradeço muito o verdadeiro espírito universitário e a UFMA! E a vc também, e a CVA, a oportunidade de apresentar essas idéias e propostas. Oxalá vivamos melhores dias na área da política cultural e ambiental!

12 de agosto de 2008

Estacionamentos irregulares ameaçam patrimônio histórico no Maranhão

Estacionamentos irregulares ameaçam patrimônio histórico no Maranhão
julho 31, 2008


Pela preservação da memória cultural do Centro Histórico de São Luís, no Maranhão, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reuniu diversas entidades em uma força tarefa para fiscalizar e conscientizar os proprietários de cerca de 50 casarões localizados no centro histórico de São Luis no Maranhão, que utilizam a parte inferior da propriedade como estacionamento.

A prática é considerada irregular, já que os proprietários não possuem autorização da prefeitura para utilizar essas propriedades para fins lucrativos. A atividade prejudica a conservação desses imóveis e muitos deles já tiveram suas paredes internas derrubadas e as fachadas descaracterizadas para dar lugar aos veículos.

A cidade de São Luis recebeu da Unesco em 1997 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. O conjunto arquitetônico da cidade é um dos maiores de origem européia no mundo. São três mil e quinhentas construções, ocupando uma área de 250 hectares. O acervo foi tombado também pelo IPHAN em 1955.

Segundo a Superintendência Regional do IPHAN no Maranhão, a força-tarefa que notificou e autuou os estacionamentos irregulares foi intitulada Operação Patrimônio. As ações começaram na última semana e não tem data prevista para serem concluídas. Segundo a superintendente regional do Iphan , Kátia Bogéa, dos 50 estacionamentos que terão suas atividades suspensas, 12 estão na área de atuação do governo federal e o restante é de responsabilidade do estado.

“Resolvemos desenvolver essa ação conjunta para fortalecer os órgãos estaduais e federais, unindo forças. Foram seis estabelecimentos embargados no primeiro dia e a operação continuará nas próximas semanas”, explica ela.

Até o final da próxima semana todos os proprietários devem ser notificados e seus estabelecimentos embargados. Nas próximas etapas serão verificados se os embargos foram obedecidos e definido o aparato técnico necessário para analisar os projetos que serão propostos para a recuperação dos prédios que ainda podem ser recuperados.

Uma investigação preliminar realizada após a primeira ação de notificação, constatou que alguns proprietários desobedeceram a determinação.

Dificuldades

A equipe destaca como maior dificuldade a resistência dos proprietários. “Não existe o entendimento de que o patrimônio é deles, mas por estar localizado em uma área especial da cidade deve atender a uma série de restrições. E ainda que esse imóvel também é do conjunto da sociedade”, destaca Bogéa. Segundo o Iphan, esse é um dos problemas da lei, já que ela interfere na propriedade privada e assim gera uma série de conflitos.

A superintendente aponta que o debate com os representantes da Prefeitura de São Luis é um dos mais necessários, já que o órgão é quem deve orientar os proprietários quanto a utilização do solo urbano e a construção ou demolição desses prédios que estão catalogados no Plano Diretor da cidade como patrimônio histórico cultural. Segundo ela, nenhum dos proprietários tem autorização para fazer modificações e se utilizar dos casarões como negócio.

“Todos os estacionamentos estão irregulares. Sem qualquer aprovação da prefeitura ou dos órgãos de proteção. O dano causado por essas pessoas é irreversível. Em alguns locais o prédio foi todo destruído e agora só tem o terreno. Mas todos eles vão responder por esse dano”.

O Procurador da República , Alexandre Silva Soares, é o representante do Ministério Público Federal na operação. Segundo ele, o órgão atuará na esfera judicial desse processo. “As ações que foram classificadas como uma operação na verdade tem como objetivo travar e impedir a prática de exploração de locais históricos para fins lucrativos. O MPF fará a identificação desses proprietários que poderão sofrer ação judicial penal por desobedecer ordem administrativa ou ação civil pública pelos danos causados ao patrimônio”, relata o procurador.

Valor

A operação é inédita no estado e, segundo Kátia Bogéa, só dessa forma é possível driblar problemas como a falta de corpo técnico do Instituto no Maranhão. “São apenas 10 técnicos para ações que vão além de apenas fiscalização, porém com uma operação como essa, estamos com todos eles envolvidos, deixando outras ações comprometidas”.

“O que muitas vezes acontece é que as pessoas acham que imóveis velhos não têm valor ou que sua recuperação seria onerosa. Além disso, há uma carência de políticas de incentivo à habitação. As pessoas deixam os prédios caírem para erguerem construções novas no espaço” aponta a superintendente regional do Iphan.

A lei nº 9.605 de fevereiro de 1998, que prevê sanções penais e administrativas para atividades que lesem o meio ambiente tem dois artigos que prevêem penas para crimes. Os artigos 62 e 63. Segundo eles, é crime destruir , inutilizar ou deteriorar bens protegidos por lei, ato administrativo ou decisão judicial, além de arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar. A punição para qualquer ato previsto nos dois artigos é de reclusão, de um a três anos, e multa.

O procurador aponta que, mesmo que crimes como esses tenham como punição a detenção, em grande parte dos casos elas são convertidas em penas alternativas como prestação de serviços à comunidade. Mas mesmo assim, ele alerta que os réus vão responder em todos os tramites judiciais necessários para a averiguação do caso.

Notícias da Amazônia (por Gisele Barbieri)
http://www.noticiasdaamazonia.com.br/3904-estacionamentos-irregulares-ameacam-patrimonio-historico-no-maranhao/

MPF/MA participa de fiscalização de casarões no centro histórico de São Luís

MPF/MA participa de fiscalização de casarões no centro histórico de São Luís
24/7/2008 12h42

O Ministério Público Federal no Maranhão participa de fiscalização dos casarões tombados pelo patrimônio histórico de São Luís, que estão sendo transformados em estacionamento para carros.
O Ministério Público Federal no Maranhão (MPF/MA), o Ministério Público Estadual (MP/MA), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Departamento de Patrimônio Histórico do Estado, a Polícia Federal, a Polícia Civil, Delegacia de Meio Ambiente, Fundação Municipal de Patrimônio Histórico, além da Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh) e da Fundação Municipal de Cultura iniciaram hoje, 24 de julho, uma fiscalização nos casarões tombados pelo patrimônio histórico de São Luís, que estão sendo derrubados, reformados e transformados em estacionamento para carros. A ação conjunta foi batizada de Operação Patrimônio.

A fiscalização tem o objetivo de embargar o funcionamento de estacionamentos que prejudicam e descaracterizam os imóveis tombados no centro histórico de São Luís. A atividade é considerada prejudicial à conservação dos casarões, que têm suas paredes internas derrubadas para dar lugar a veículos, além de ter a fachada descaracterizada em muitas situações.

A fiscalização faz parte de uma série de medidas de controle e repressão ao uso econômico indevido de imóveis tombados pelo patrimônio, seja na esfera federal ou estadual.

“A partir dos trabalhos desta manhã, o Iphan enviará ao MPF a documentação contendo parecer técnico dos locais fiscalizados. Nos casos mais graves existe a possibilidade de instauração de inquérito policial, uso de ação penal, além de ação civil pública contra os proprietários dos imóveis”, explicou o procurador da República Alexandre Silva Soares.

Os infratores poderão ser enquadrados no artigo 62 ou 63 da Lei de crimes ambientais, com pena de até três anos, além de multa.

Veja a nota divulgada pelas instituições que participaram da operação:
http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias-do-site/pdfs/patrimonio.pdf


Assessoria de Comunicação
Procuradoria da República no Maranhão
Tel.: (98) 32137137/99449223
E-mail:ascom@prma.mpf.gov.br

12 de maio de 2008

VI Semana Nacional dos Museus


VI Semana Nacional dos Museus
Museus como Agentes de Mudança Social e Desenvolvimento


Universidade Federal do Maranhão
Palestra
TEATRO DAS MEMÓRIAS: entre o passado e o futuro.
Prof. Alexandre Fernandes Corrêa

GRUPO DE PESQUISA PATRIMÔNIO & MEMÓRIA
GRUPO DE ESTUDOS CULTURAIS

PALÁCIO CRISTO-REI

ROTEIRO DE APRESENTAÇÃO:

Tema da Semana Nacional: Museus como Agentes de Mudança Social e Desenvolvimento;
Tema do Ano Ibero-Americano de Museus/2008;
A Importância da Universidade vincular-se e integrar esse processo de debates e reflexões sobre a função social dos Museus em nossa sociedade local e no continente;
Refletir sobre a contribuição das Universidades para a democratização do acesso aos museus em nosso país.
Num campo e área do conhecimento dominada por muito conservadorismo é importante ver a disposição de se renovar os paradigmas de atuação e das práticas museológicas atuais;
Parece paradoxal que os Museus, lugares tradicionalmente estabelecidos como lugares da conservação, possam vir a ser lugares de reflexão sobre transformação cultural, desenvolvimento e inclusão;
Esse é um desafio interessante para todos nós.

CONCEPÇÕES DE MUSEU

Os Museu na Europa têm uma longa história de focar o olhar sobre os objetos, como artefatos engenhosos;
Os primeiros museus eram coleções enciclopédicas de príncipes renascentistas;
Fundados sob a ideologia do poder político e intelectual, engajado em colecionar objetos como no modo taxonômico de ordená-los;
Tudo que foi colecionado sob esse viés, era considerado ‘visualmente interessante’;

Museu: Exibir, Ver, Educar

Do Renascimento até hoje, os Museus têm mudado muito. É uma exigência da sociedade – o antigo modelo já não dá conta da nova realidade;
O desafio agora é a demanda por se tornar um lugar-agente de ‘promoção’ do ‘desenvolvimento’ e da ‘inclusão’ social;
É preciso compreender as metamorfoses do sentido do museu na sociedade contemporânea;
Aqui vamos trabalhar com a idéia do Museu como um Teatro das Memórias, dialogando com as outras formas de Museus, Eco-Museus, Centros e Casas de Cultura, etc.

Teatro das Memórias: Entre o Passado e o Futuro

Uma Contribuição da UFMA para São Luís: O Projeto de Pesquisa e Ação Cultural
Diálogo Passado Presente Futuro

Projeto de Pesquisa e Ação Cultural

Reflexões a partir de uma prática de pesquisa e de extensão universitária;
Enfrentar a dificuldade de lidar com a memória no contexto sócio-cultural contemporâneo, fascinado pelo fetichismo da ‘modernização-globalização’ acelerada;
A importância dos estudos da memória na sua relação com a rede de significados políticos e a dimensão da ação dos atores sociais;
Enfrentar as dificuldades de desenvolver um trabalho independente sem o controle das empresas e dos interesses políticos.

Brasil: País do Futuro & País sem Memória

Não temos uma tradição coletiva de transmissão ininterrupta de valores, um conjunto de bens culturais coesos, com uma memória coletiva cristalizada;
Temos Memórias Sociais Subterrâneas Plurais, dominadas pela ‘memória oficial’;
País do Futuro: o esquecimento das origens pessoais, dos grupos imigrantes, raças, etnias, etc.
País da Promessa – Lema: Esquecer para tornar-se brasileiro.

País do Teatro das Memórias Sociais Plurais

Temos um caminho aberto para uma multiplicidade de definições de memória;
Não há uma única memória cultural e coletiva;
Há pluralidade de ‘memórias’ – a acentuação do especial, singular e único, tem um papel importante;
Superar a dificuldade de lidar com a memória social traumática no país: escravismo, colonialismo, autoritarismos, ditaduras;
A Memória social brasileira não é um mar de “rosas”: temos que agir com cuidado e muito respeito.

País do Presente e dos Contrastes

É preciso uma perspectiva interdisciplinar e transcultural das relações entre memória e esquecimento na sociedade brasileira;
País do aqui e agora: fixação no prazer e alegria x passado difícil e conflituoso;
Dialética: País da Esperança x Passado Violento
A Memória social brasileira é traumática, violenta, repleta de histórias de espoliações, escravidão, etnocídios, genocídios, autoritarismos, ditaduras, etc.
Quadro que propicia as tentativas de encobrimento e as dificuldades de lidar com os conflitos, que são recalcados e evitados a todo custo.

TEATRO DAS MEMÓRIAS: Diversidade & Unidade

Proposta: Sociedade Humana: Vida Social = Teatro e Drama: a Sociedade como um Teatro Vivo;
Cada personagem-indivíduo-pessoa-sujeito-grupo é ator e desempenha papéis sociais singulares;
A Vida social, como um Drama social, esta repleta de histórias, dramas, etc.;
A Vida social, como o teatro da vida, tem comédias e tragédias;
O cotidiano da vida está repleto de representações dramáticas, dos quais nossas biografias fazem parte e constituem capítulos importantes das diversas Histórias de Vida, nos diferentes grupos aos quais nos vinculamos.

Gestão Democrática do Teatro das Memórias Sociais

Avançar: Artigos 156 e 157 da Constituição Federal Brasileira: direitos culturais e cidadania cultura;
Direito de participar da gestão das políticas culturais, da memória social e das identidades sociais;
Necessidade de Conselhos de Cultura e Patrimônio funcionando democraticamente, e representativos;
Observatórios da Política Cultural da sociedade civil, para que cultivemos o diálogo democrático e o respeito a crítica e a autonomia cultural;
Evitar o clientelismo, os favores e a cultura da subalternidade e subserviência.

ENTRE O PASSADO E O FUTURO: o que fazer do que fizeram de nós?

A Educação Patrimonial na Encruzilhada: Inclusão e Desenvolvimento para quem? Quem está se beneficiando dessas práticas pseudo-pedagógicas? Como se propor a ‘amar’ o passado e se ‘sentir pertencendo’ a uma história de explorações, espoliações e dominações coloniais exercida sobre milhões de brasileiros? Será correto fazer ‘entretenimento’ e ‘lazer’ das memórias e histórias populares?

A ‘Educação Patrimonial’ na Encruzilhada

Questão crucial: O que fazer do que fizeram de nós?
Patrimônio cultural é herança e legado: para quem foi deixado o testamento desses legados culturais?
Como se sentir pertencente a um ‘patrimônio’ que é símbolo e lembrança de uma condição subalterna, para milhões de brasileiros?
Como ‘ensinar a amar’ um passado que tantos traumas históricos infringiu a maioria da população?
Esses patrimônios pertencem a quem? Devem ser ‘amados’ por quem?

Questões ao ‘Romantismo’ e a ‘Nostalgia’ Pós-Moderna

‘Conhecer’ para ‘amar’ o patrimônio: mas conhecer quais histórias? Quem vai contar essa ‘história’?
Para quem o passado pode ser objeto de amor e de sentimento de pertencimento?
Qual a natureza ideológica do ‘amor romântico’ pelo passado?
Para quais grupos sociais o passado pode ser lembrado sem causar aflições e remorsos?
Para quem lembrar do passado pode ser agradável e prazeroso: toda gente? Todos podem lembrar do passado da mesma forma?
Para quais grupos pode ser objeto lúdico brincar do jogo da memória e do esquecimento no teatro das memórias da vida real?

Museus ‘Fósseis’ x Museus Vivos

Como lidar com os traumas históricos e sociais graves em que vivem e viveram as populações que ainda habitam os sítios históricos das nossas cidades?
O Teatro das Memórias não é um processo para ser proposto a comunidade de forma irresponsável e ilusória.
É preciso entender quais os interesses ideológicos daqueles que querem continuar a tirar benefícios da história dos sofrimentos alheios;
Projetos de Lazer e Entretenimeto são formas de inclusão?
Evitar a ‘fossilização’ e ‘folclorização’ da cultura. Precisamos de Museus que sejam Teatros Vivos da Cultura Popular.

Terapêutica da Memória

Ao contrário dos que querem tirar mais-valia das memórias e do passado dos diferentes grupos sociais que formam a nossa sociedade, é preciso mais pesquisa e conhecimento;
Ao remar contra a maré pós-moderna dos que querem transformar o passado em mercadoria fetichizada, barata e sanitarizada - abolindo e encobrindo todas as contradições da história;
É preciso um trabalho terapêutico de longo prazo, com pesquisa orientada e científica, no sentido de se atingir uma ‘outra cena’, uma ’outra memória’: propor a re-significação política dos acervos culturais;
Trabalho que deve ser feito através de uma sócio-análise profunda, associado a uma psico-análise igualmente profunda;

A ‘outra memória’ e a ‘outra cena’

É um trabalho inter e multi-disciplinar para atingir meta-ponto-de-vista transdisciplinar;
Não tem como fazer esse trabalho isolado, sem interfaces com equipes multi e inter-disciplinares;
Para se evitar a ‘turistificação’ e a ‘folcrorização’ mercadológica das memórias sociais, ou a patrimonialização excessiva – que visa a espetacularização mercantilizada – é preciso um trabalho de longo prazo, elaborado por equipes de profissionais de história, sociologia, antropologia, psicologia, psicanálise, etc.
Trabalho com método e perspectiva científica.

Exemplos da Relação com as Memórias Diversas

Para ilustrar a reflexão proposta, e marcar as particularidades das relações diferenciadas que os grupos sociais tem com sua memória e história, lembremos dos grupos de índios e negros brasileiros no Maranhão, e os grupos de imigrantes sírio-libaneses e europeus em nosso país; São história de destinos diferentes;
Cada grupo mantém uma relação diferente com a memória e a história; história de sucessos e fracassos;
É preciso ter em mente as particularidades de cada grupo e conhecer sua relação com a memória e a história.

Proposta Metodológica: Sociedade – Teatro Vivo

Nossas vidas se movimentam sob o impacto de duas forças poderosas: a do passado e a do futuro.
Sociedade – Teatro Vivo: Jogo das Semelhanças & Diferenças
O presente é o resultado da ação conflituosa, ou harmônica, entre duas forças: do passado e do futuro.

Atual Transformação Técno-Sócio-Cultural Acelerada

MUSEUS: Locais de Dramatização (Encenação) do Impacto das Mudanças na Vida Social Moderna
Gestão da História, Patrimônios, Memórias, Identidades

TEATRO DAS MEMÓRIAS: São Tomás de Aquino – “O Sensível é o veículo natural do Inteligível”.

A palavra “TEATRO” – privilegia a visualidade – conserva uma vinculação etimológica à família do verbo grego theáomai, “ver”.
Os Museus são Teatros da Memória.
As matrizes sensoriais (ver, ouvir, tocar, sentir, etc) facilitam a rememoração. Espaços de Dramatização da Memória. Ex: Igreja Barroca – Bíblias de Pedra.
Impacto pedagógico através da seleção mental, ordenamento, registro, interpretação e síntese cognitiva na apresentação visual.

Exposição, Pesquisa e Produção de Conhecimento: Laboratório da História Social

Existe uma gama multiforme de possibilidades para os Museus, recusando-se um modelo único.
Propostas para evitar os Museus-Fósseis;
Os Museus, de qualquer natureza, devem buscar contemplar e trazer uma contribuição específica, e insubstituível, para a produção de conhecimento.
Combater a Museomania Convencional, através do estímulo aos Museus-Teatros Vivos da memória e da transformação sócio-cultural histórica.

Projetos de Ação Cultural: Extensão Universitária – UFMA

No Teatro das Memórias o processo de gestão democrática das culturas, dos patrimônios, das identidades e dos sentimentos de pertencimento podem se dar através da realização de laboratórios e oficinas;
Artesanato, Cinema, Teatro, Fotografia, Arquitetura, Cenografia, Música, Manifestações Culturais, etc.
As Comunidades decidem suas prioridades;
Evitar, a todo custo, o uso mercadológico de intervenções ‘eventuais’ apenas para difundir a imagem das empresas e dos políticos.

TEATRO DAS MEMÓRIAS: LARGO DO DESTERRO – História e Memória Social dos Bairros

O Trabalho de Pesquisa e Extensão Universitária em bairros e comunidades deve ser elaborado com muitos cuidados para não se tornar apenas mais um evento de marketing de empresas e governos que somente tiram mais-valia difundindo o ‘falso amor ao passado’.

Lema-Guia da Proposta da Gestão Política do Teatro das Memórias: “Apressar a Muda da Lagarta”

Como lembrava Paul Valery: “a maioria das sementes não tem futuro” – Nem todos os bons frutos vingam ou nascem;
Portanto, a ação cultural deve ativar 3 esferas do vida do indivíduo e do grupo:
1. IMAGINAÇÃO: a consciência reflete sobre si mesma, inventa a si mesma, se abre para as possibilidades, libertando-se do ser e do dever ser para aceitar o desafio do poder ser;
2. AÇÃO: o sujeito penetra no tempo presente e viabiliza o que sua imaginação pré-sentiu – ligando-se ao processo cultural concreto;
3. REFLEXÃO: permitir fazer a si mesmo uma proposta de continuidade de si próprio, de sua consciência e de sua ação, numa integração com o passado capaz de permitir o exercício teórico, i.é, a previsão do futuro, a predeterminação do futuro;
Neste instante, o círculo se fecha e a imaginação é de novo ativada.

A Metamorfose Cultural: A Ação Cultural é uma Lagarta

Essa visão só é possível quando se antecipa a imagem nova, transfigurada e multicolorida que dela vai surgir.
Mas, Cuidado com as Resistências e o Negativismo: Se o trabalho de metamorfose demorar muito, vem a vontade incontrolável de esmagar aquele bicho repelente, com tudo que possa abrigar de promissor em seu corpo mutante!
É preciso saber cultivar a boas sementes!

Internet: Informações sobre o Conceito e a Concepção do Projeto
http://teatrodasmemorias.blogspot.com/
Projeto de Pesquisa e Extensão Universitária, Aprovado no DEPSAN-CCCH-CONSEPE-CONSUN-UFMA-2003

GT UFMA São Luís 400 anos

Este anteprojeto tem o objetivo de promover uma campanha pela recuperação de fotografias e imagens relacionadas as comemorações dos 350 anos de ‘fundação’ da cidade de São Luís do Maranhão, no ano de 1962.

GRUPO DE PESQUISA PATRIMÔNIO & MEMÓRIA: Convida

I ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS
CCOCF (Praia Grande) – 29 A 30 de Maio

http://grupodepesquisapatrimoniomemoria.blogspot.com/

OBRIGADO!

VI SEMANA NACIONAL DOS MUSEUS



UFMA promove VI Semana Nacional de Museus
A abertura do evento acontece na segunda-feira, 12, no Palácio Cristo Rei

Com o tema "Museus como agentes de mudança social", o Memorial Cristo Rei promove entre os dias 12 e 16 de maio a edição local da VI Semana Nacional de Museus. Iniciando em 2006 sua participação no evento, o Memorial aderiu em 2007 ao Cadastro Nacional e já faz parte do Sistema Brasileiro de Museus.

Dia 12 de maio

Palestra de abertura:
"TEATRO DAS MEMÓRIAS: ENTRE O PASSADO E O FUTURO"

Palestrante: Prof. Dr. Alexandre Fernandes Corrêa - Departamento de Antropologia e Sociologia da UFMA

Horário: 18h00

O evento nacional acontece anualmente no mês de maio, em comemoração ao Dia Internacional dos Museus (18 de maio), com o propósito de integrar os museus brasileiros e intensificar sua relação com a sociedade, sendo promovido pelo Departamento de Museus e Centros Culturais (DEMU), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e pela Associação Brasileira de Museus (ABM).

O Memorial Cristo Rei tem como objetivo resgatar, preservar e difundir a história da UFMA. O acervo histórico do memorial é composto por livros e relatórios sobre a Universidade, documentos das antigas faculdades isoladas, peças e equipamentos da área médica e de diversos setores da universidade, bem como honrarias recebidas pelos ex-reitores e fotografias dos eventos ocorridos nas gestões anteriores.