Edital MCT/CNPQ 14/2008 Universal Processo 470333/2008-1



30 de abril de 2012

DESABAFO DE UMA ARTISTA


ACORDA SERPENTE!


"Uma coisa que me deixa puta é esse apelido que São Luís tem de "Ilha Rebelde". Porque eu entendo rebeldia de uma maneira absolutamente diversa de irresponsabilidade. Rebeldia é não aceitar o imposto, olhar as coisas sobre uma perspectiva menos viciada, enfrentar paradigmas, vencer dogmas, não estagnar no passado, questionar e principalmente repaginar o presente. Ser rebelde é ser atuante, consciente, crítico, inalienável.



Irresponsabilidade, é o avesso de tudo isso, com a agravante ainda mais cretina que é o egoísmo. Irresponsabilidade é abandonar, não diferir, não contribuir, não colaborar, não cumprir, não apoiar... É também roubar de si o dever de cuidar pra que as coisas evoluam, dentro e fora de nós.


São Luís é uma ILHA IRRESPONSÁVEL.


Aqui as pessoas arrotam o azedo e mofado título de "Atenas Brasileira", como a pelo menos 2 séculos isso não deixasse de ser realidade. Talvez porque de atenienses tenham conservado o hábito do ócio. Só que a modalidade daqui é mental.
Eu podia passar a vida aqui comentando de todos os descasos escrotos que assolam nossa cidade e tem como mais importante causa o desinteresse absurdo da nossa população, e podia falar de todos esses filhos da puta que estão aí drenando nosso dinheiro pra aparecerem de dois em dois anos mostrando seus sorrisos de acrílico, conseguindo assim mais 4 anos de pura mamata.


Mas eu sou artista, e escolhi falar da parte de me cabe, ou seja, o nosso cenário cultural.
O nosso público é preguiçoso e os nossos artistas também. A nossa cena ainda ocorre pelo esforço quase beato de pouquíssimas pessoas que se preocupam em colocar a nossa cultura no lugar que eu já nem sei se ela merece mais.

Ontem fui ao BR-135. E eu vou pedir licença ao meu amigo Alê Muniz pra tecer algumas informação e dados válidos sobre o projeto.


O BR foi montado com o muito principal objetivo de conceder palco de qualidade e público aos nossos artistas a um público aparentemente ávido de novidades e renovação da nossa música. Não só da música, aliás.
E ele surgiu também como alavanca de surgimento de outras iniciativas da mesma natureza, ousadas, que tirassem o invólucro, a casca vendida da nossa culturalidade.


O BR surgiu pela iniciativa de duas pessoas que não tem a menor necessidade de pensar no futuro cultural da nossa cidade, pois já se despiram da aura pegajosa e magnética que parece envolver as pessoas daqui. Essas pessoas sequer precisam morar em São Luís, mas ainda assim resolveram não esquecer da sua vontade de ver aqui as coisas mudarem de figura.
E essa galera tá fazendo isso sem patrocínio de NINGUÉM. O apoios que recebem são extremamente bem-vindos e são dados por "brothers" (como o Alê falou ontem), por gente digna, realmente rebelde e que não desiste disso.


Grosso modo, os organizadores do BR estão tirando grana do próprio bolso pra ver a parada funcionar.
E leia-se: - O BR não chama ninguém pra tocar de graça! Ali a ideia é que o artista se sinta como o artista que é.
Aí eu revoltadamente me deparo com o fato de que, mesmo sendo um movimento ousado, necessário, esperado e de ingresso barato, o povo não tá indo. Nem público precisado, nem artistas interessados, nem mídia especializada de qualquer natureza, inclusive marrom. NADA.


A galera daqui tá deixando o BR morrer como fazem com todas as iniciativas que não envolvem putaria de verbas e eventos popularescos emburrecedores.
Eu me envergonho de pensar em quantas pessoas deixaram de ver os shows incríveis de Madian e Preto Nando ontem pra ir pro sertanejo ou por forróbunda. Eu me envergonho das empresas que contribuem pro enraizamento e instalação irreversível desse vazio cultural, e simplesmente CAGAM pra iniciativas que transformam ideias e pessoas. Eu me envergonho dos artistas preguiçosos e desunidos que vivem no mundo ao redor de seus próprios umbigos minúsculos, e que não pensam que sozinhos não chegarão a lugar nenhum.


Enfim, eu me envergonho pela desilusão das poucas pessoas que ainda tem a intenção de fazer alguma coisa pela gente.
Esse manifesto aqui é de desesperança. Eu não acredito sinceramente que as coisas possam ficar melhores do que o pior que já existiu.


Enquanto não for repensando esse conceito de que a gente é especial, que a gente foi colonizado por francês, que a gente é mais sabido que todo o Brasil, que a gente não precisa de ninguém, que a gente é filho, sobrinho, parente, puta do deputado... Isso não vai mudar.


É preciso que nos conscientizemos. São Luís é uma bosta. Nossa sociedade é corrupta, leviana e burra. Nossos políticos são asquerosos. Aqui é fim de linha.
E eu termino esse desabafo dizendo que menti.
Esse não é um manifesto de desesperança. É um manifesto de desesperada.
É o que posso fazer no momento pra dar a minha contribuição a um utópico desejo de resitir, e é com muita dor que o faço.

Eu não queria ter que dizer tudo isso, e queria trabalhar com dignidade da minha própria arte na cidade em que eu nasci. Eu queria que os meus companheiros de profissão fossem também os de vida, e que a gente se unisse num esforço sincero de se apoiar e se acrescentar pra crescer junto. Eu sonhei com o dia em que iniciativas independentes fossem abraçadas como oportunidades reais de fortalecimento da nossa identidade artística.


Eu sofro pelos rebeldes que restam. E não posso rezar pelos irresponsáveis que transbordam, infelizmente.
Eu desejo mesmo, muito, é ver a porra dessa Serpente acordar.

Parabéns a todos os rebeldes que fizeram, apoiaram e compareceram ao BR-135 ontem. Foi um lampejo lindo do que a gente deveria ser."

Nathália Ferro, cantora e compositora maranhense.
Texto publicado nas redes sociais, dia 29 de abril de 2012.

6 de abril de 2012

No Dia do Assassinato de Cristo.


No Dia do Assassinato de Cristo.

Nosso Amor-Vida que estais no Céu,
Santificado seja vosso nome,
Venha a nós o vosso Reino.

Seja feita vossa Vontade.
Assim, na Terra como no Céu.

O pão nosso de cada dia,
Nos dai hoje.

E perdoai as nossas culpas.
Assim como nós perdoamos
Aos que nos tem ofendido.

E não permitais que nosso amor seja deturpado;
Mas livrai-nos de nossas perversidades.

Amém!

Wilhelm Reich