Edital MCT/CNPQ 14/2008 Universal Processo 470333/2008-1



23 de janeiro de 2007

TEATRO LABIRINTO: A Que Causa Dedicar a Vida?

Experiência Teatral:

Encenação propondo novas relações entre palco e platéia com espetáculo de pesquisa e linguagem interativa:

TEATRO LABIRINTO. No Teatro da CEU, Rio de Janeiro,1980/82.
Direção: Mario Telles.

Tribo Trupe Cooperativa de Palhaços (1980/1):

Integrado por Leila Cardia, Antonio Gonzales, Lilian Gomez, Fabiene Garcia, Rosan de Souza, Carmen Luz, Lúcio Fagundes Telles, Fernando Neder, Lucas Chiavata, Alexandre Corrêa, outros.

Produção do Curso de Doublê do Grupo ABRACADABRA - Centro Cultural da CEU

Criação do TEATRO LABIRINTO. Espetáculo - A Que Causa Dedicar A Vida? (Centro Cultural CEU - Rio - 1980/1)

Fonte: http://artes.com/sys/sections.php?op=view&artid=4&npage=6

CRÍTICAS:

RIO DE JANEIRO, DEZEMBRO DE 1981 - Revista da ACET

TEATRO ALTERNATIVO Onde não há brechas urge criar uma

Macksen Luiz - Crítico do Jornal do Brasil

Há cinco anos a denominação teatro alternativo pretendia definir, mais que uma forma de produção teatral, uma opção de criação. Mas se a sobrevivência está difícil para todos, por que não buscar a originalidade num mercado que tende a se padronizar? Os grupos (ou elencos) alternativos, ainda que muito incipientemente estão arranhando essa constatação óbvia. Há pelo menos duas tendências bem marcadas entre os alternativos: a de reencontrar a pesquisa teatral e a do comercialismo sem limites. Alguns grupos estão seriamente empenhados em descobrir formas diferentes de linguagem teatral, capazes de atraírem o público e de contribuírem com a renovação de estilo, de elenco e de repertório. Talvez o espetáculo mais representativo desta tendência atualmente em cena no Rio seja Labirinto - A que causa dedicar a vida?, criação coletiva da Tribo Troupe Cooperativa de Palhaços que pode ser visto no Teatro da CEU. A idéia do grupo é a de fazer com que o espectador não seja um elemento passivo, um mero observador do fato teatral. Investido do papel de ator, o público penetra num labirinto dentro do qual lhe são propostas várias situações que são debatidas com os atores. Nesse jogo lúdico-teatral é incentivada uma nova relação entre palco e platéia que avança uma pesquisa tão em voga no teatro experimental em todo o mundo.

O Globo - Terça-feira, 1/9/81

TEATRO / Crítica - Flavio Marinho

'Labirinto': Um simpático parque de diversões

Em matéria de proposta teatral original e anti-convencional, "Labirinto: A que causa dedicar a vida?", uma apresentação da Tribo Trupe Cooperativa de Palhaços no Teatro da Casa do Estudante Universitário -somente nos fins de semana- certamente leva a palma da atual temporada carioca. Em todos os sentidos, as intenções do grupo fogem as tradicionais regras estabelecidas na relação entre espectadores e intérpretes. A começar pelo horário -que não é rígido. Começa quando o público chega. E, até forma um grupo de oito espectadores -o público entra de oito em oito- ele é entretido por dois palhaços que, entre uma e outra piada, já dão algumas dicas do que acontece "lá dentro", embora sem oferecer maiores detalhes - "para não tirar a graça".
Realmente não seria o caso de, aqui, narrar o que ocorre - senão, muito do fator surpresa de que vive "A que causa dedicar a vida?" seria esvaziado. Basta que seja dito que, nas dependências da Casa do Estudante Universitário, foi construído, com paredes de papelão, um verdadeiro labirinto cênico em que o espectador é lançado e no qual, o imprevisto - e, as vezes, o impossível - acontecem. como num parque de diversões, o espectador vai passando por diversos compartimentos em que se vê na situação de sair de sua condição passiva para atuar, como parte integrante, da ação que está acorrendo em cada compartimento. Estamos, pois, sob o signo do improviso, na medida que a reação de cada espectador caberá uma outra reação - diferente - do ator. Numa medida de 40 minutos, o espectador/ator percorre todo o labirinto, em que, de uma forma ou de outra, as vezes até sem que ele perceba, temas como a competição, o poder, a fé religiosa ou a burocracia são levantados. O rendimento da proposta é, portanto, sempre desigual, pois seus frutos dependem muito da predisposição do espectador para tal tipo de empreitada e da capacidade de improviso e tarimba dos intérpretes. Estes mostram-se, no entanto, igualmente desiguais. Enquanto uns demonstram absoluto domínio sobre a função que lhes foi atribuída - seja ela de preso ou delegado - outros mostram-se ainda um pouco vedes para cumprir tão difícil tarefa como criar, em cima da hora, falas não preestabelecidas.
Nota-se, claramente, influência do Teatro do Oprimido de Augusto Boal nas raízes do "Labirinto". Mas, enquanto a proposta de Boal ia além da teatral e chegava a beirar o terreno da pedagogia, a de "Labirinto", com sua ênfase no aspecto lúdico da atividade teatral, vai somente as raias de um "trem-fantasma" com ligeiras implicações sociais. A pergunta colocada no título, por exemplo, ("A que causa dedicar a vida?") não é, afinal, desdobrada no decorrer do "Labirinto". O espectador acaba saindo dele sem se questionar muito sobre a vida ou a realidade que o cerca, deixando a Casa do Estudante Universitário com a impressão de ter participado de um insólito - porém simpático - parque de diversões. E, portanto, aconselhável ao espectador mal-humorado passar ao largo das brincadeiras desta Trupe de Palhaços.

Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - Quinta-feira, 2 de setembro de 1981.


TEATRO. No Labirinto da Vida. Yan Michalski

Num momento em que a busca da inovação só se manifesta muito esporadicamente no nosso teatro, qualquer tentativa com sabor do pouco habitual torna-se bem-vinda. É o caso de Labirinto – A que causa dedicar a vida?, que introduz no Rio um tipo de experiências ambientais que a vanguarda européia andou explorando com insistência no fim dos anos 60 e no início da década passada. A idéia-base de Labirinto é, por exemplo, quase idêntica à de um famoso espetáculo do italiano Luca Ronconi, XX, lançado no Festival do Teatro das Nações em Paris em 1971.
Esta idéia-base consiste em colocar o visitante em espaços e situações especialmente criados de tal modo que ele não se sinta um passivo espectador de uma representação, mas um individuo inopinadamente colocado pelo destino diante de pressões e desafios que exigem dele tomadas de posição, escolhas de uma entre várias alternativas, definições de pontos-de-vista. No caso, os espectadores são introduzidos em grupo de oito - que, porém, se desfazem rapidamente, de modo que o contato com a experiência passa logo a ser individual - num complicado labirinto construído de papelão, cuja travessia se constitui, já em virtude das características sufocantes e insólitas do espaço, numa tarefa que a vítima enfrentará com provável sensação de insegurança, com as suas habituais defesas algo abaladas. No início, o espectador é exposto a um desafio apenas lúdico, sendo solicitado a participar de uma inocente brincadeira, de uma infantil simplicidade. Aos poucos, porém, ele passa a esbarrar em varias e imprevistas situações, cujos detalhes me eximo de descrever, para não estragar a surpresa dos eventuais futuros candidatos, mas que são geralmente extraídas do panorama da violência a que o carioca está rotineiramente exposto no seu cotidiano. Diante dessas situações, o espectador é chamado a reagir a cada passo, quer assumindo o caráter apesar de tudo ficcional da experiência e tentando improvisar um personagem por ele mesmo idealizado como adequado às solicitações da respectiva situação, quer transpondo-se para o plano da realidade e dando as respostas que daria se estivesse participando de uma situação semelhante na vida real. Uma avaliação critica de uma experiência como esta é muito problemática, já que cada espectador assiste, na verdade, a uma realização diferente da que é assistida por todos os outros, pois seu desenrolar depende decisivamente das suas próprias reações, e das dos seus companheiros de grupo. De saída, para dissipar possíveis receios dos mais tímidos, cabe dizer que não existe risco de situações de constrangimento, pois a Tribo Trupe Cooperativa de Palhaços trata as suas vítimas com respeito, calculando adequadamente as doses de aflição e insegurança inerente á natureza da proposta, mas sem abusar de posição de autoridade em que os atores se encontram em relação aos desprevenidos visitantes do labirinto. O trabalho foi preparado com visível cuidado, a começar pela inventiva ambientação cenográfica de Leila Cardia, e culminando com a segurança e desenvoltura de improvisação com que os atores respondem às diversas reações dos seus visitantes. Pelo menos nas situações que enfrentei, quer sozinho ou junto com outros companheiros de travessia, pareceu-me que os intérpretes estão preparados para dominar convenientemente as suas respectivas situações, qualquer que seja a resposta que encontrarem.
A experiência é curiosa, mas pareceu-me insuficientemente amadurecida e definida, e portanto fica mais na superfície do que seria de se esperar, considerando os seus enunciados teóricos. Em momento algum consegui avaliar qual é a parte efetiva de mera brincadeira e qual a parte de uma vivência mais profunda que a equipe pretende extrair do trabalho; e em momento algum senti-me suficientemente pressionado para motivar-me a discutir as situações propostas; sendo que algumas delas foram, na minha passagem, resolvidas tão apressadamente que pareciam não passar de esboços. Toda a travessia do labirinto é, aliás, muito apressada em relação às reações que se pretende extrair dela; e é desproporcionalmente curta em comparação com o tempo de espera durante o qual o espectador, enquanto aguarda a sua vez de ser admitido no labirinto, é distraído por dois palhaços simpáticos e não desprovidos de graça, mas cujo trabalho, pela própria natureza, não passa de uma laboriosa encheção de lingüiça.