Edital MCT/CNPQ 14/2008 Universal Processo 470333/2008-1



10 de maio de 2007

TEATRO DAS MEMÓRIAS

Teatro das Memórias: entre o passado e o futuro.

O Grupo de Pesquisa Patrimônio e Memória da Universidade Federal do Maranhão, vem desde 2001 realizando trabalhos de extensão universitária em alguns bairros da cidade de São Luís. Trata-se de uma iniciativa que vem marcando mudanças na matriz dominante no campo do preservacionismo cultural no Maranhão. Estamos dando passos importantes e colaborando para a superação do paradigma arquitetural predominante na área do patrimônio histórico, comumente reduzido à visão de “pedra e cal”. Estamos trilhando um novo caminho no sentido da promoção das memórias sociais e da história dos bairros da capital ludovicense.
O Projeto de Ação Cultural Teatro das Memórias faz parte de um projeto mais amplo que vem sendo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa do Patrimônio e Memória, na região grande metropolitana de São Luís. Na sua concepção macro temos como objeto de pesquisa e análise as políticas do patrimônio biocultural implementadas nos museus, eco-museus, parques e centros culturais da ilha. Tomando como pano de fundo a dinâmica sócio-histórica das identidades culturais regionais e locais, almejamos trabalhar as particularidades e singularidades do processo de preservação e transformação da natureza e da cultura local, na atualidade. Nesse trajeto focalizamos especialmente os chamados novos patrimônios, objetos de ação preservacionista, na cena das políticas culturais e ambientais - algo especialmente importante numa cidade que ainda não tem um Jardim Botânico, um Horto Florestal, ou um Parque da Cidade, abertos ao público, isto é, não possuímos ainda um Teatro das Memórias da Natureza verdadeiramente democráticos e de livre acesso a todos os cidadãos.
Desde 2001, o Grupo de Pesquisa do Patrimônio e da Memória (GPPM/UFMA) vem desenvolvendo linhas de pesquisa e trabalho em acervos fotográficos de famílias dos bairros, organizado oficinas de fotografia e artes plásticas, oficinas de cultura e memória social, oficinas de artesanato e manifestações artísticas e culturais, além de palestras e eventos com crianças, jovens, adultos e idosos residentes em diferentes logradouros da cidade. Em cada nova edição da ação cultural pretendemos aprofundar, através do teatro e de outras artes, o alcance dos trabalhos de promoção cultural da memória social e do patrimônio histórico e ambiental da capital e da ilaha de São Luís.
Vale destacar que o Projeto Teatro das Memórias tem em vista, em longo prazo, participar efetivamente das discussões acerca da construção coletiva do IV centenário da fundação de São Luís. Os resultados dessa parceria cultural e artística da UFMA com a comunidade, o Estado, a Prefeitura, e as empresas privadas nos preparam para a elaboração conjunta de um calendário de atividades coletivas, em prol da conservação, preservação e promoção da memória social e do patrimônio cultural da capital do Estado do Maranhão.
Nesse processo pretende-se desenvolver atividades voltadas para o tema da transmissão das heranças culturais e dos patrimônios coletivos, através do encontro entre as memórias de diferentes grupos sociais que habitam, convivem e formaram a cidade e os municipios da ilha de São Luís, além é claro do Centro Histórico - trabalhando com crianças e adolescentes em diálogo intersubjetivo com adultos e idosos das diferentes classes sociais.
A execução desse Projeto de Ação Cultural se dá sempre em parceria com as entidades civis, como União de Moradores e Amigos de Bairro, Sindicatos e outras instituições culturais. A coordenação geral é feita pelo Grupo de Estudos e Pesquisas do Patrimônio e Memória da Universidade Federal do Maranhão. O calendário de atividades e ações culturais e artísticas sempre é elaborado em conjunto com a comunidade. Fortalecendo o diálogo entre as crianças, os jovens e os idosos.
Todo ano temos priorizado a nossa participação no Dia do Patrimônio (6 de dezembro), quando se comemora a inclusão do Centro Histórico de São Luís na Lista do Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco (1997). Nessa data apresentamos os resultados dos trabalhos realizados nas comunidades, quando são expostos os produtos criados pelos integrantes dos Laboratórios e Oficinas de Arte e Cultura, no decorrer de todo o ano. Desse modo, pretendemos intensificar a participação da Universidade na vida da cidade, contribuindo para a renovação do seu imaginário urbano e promovendo um diálogo fecundo, criativo e participativo “entre o passado e o futuro” nas diversas comunidades que formam o tecido e a rede metropolitana dessa fantástica cidade de São Luís do Maranhão.

Prof. Dr. Alexandre Fernandes Corrêa - Adjunto de Antropologia (UFMA)
Coordenador do Grupo de Pesquisa Patrimônio & Memória e do Grupo de Estudos Culturais.

59ª Reunião Anual da SBPC UFPE / Hangar - Belém/PA 8 a 13 de julho de 2007
Título: TEATRO E EDUCAÇÂO PATRIMONIAL NO BAIRRO DO DESTERRO: A PROPOSTA DO TEATRO DAS MEMÓRIAS
Área: H.1.8. - Teatro e Ópera
Autores Danielle de Jesus de Souza Fonsêca
Data Programada: 13-7-2007 Período: Tarde Número do Painel: 254
http://www.servicos.sbpcnet.org.br/sbpc/59ra/senior/pesquisatrab.asp?acao=consultar

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A DIALÉTICA DA PERMANÊNCIA DO PASSADO.


Uma questão recorrente vira e mexe retorna a cena. E nos diários e periódicos de todas as cidades brasileiras, com centros urbanos antigos, observamos retornar com freqüência o problema do que fazer com as sobras do passado; quais os usos do passado no mundo de hoje. É uma preocupação sedimentada e desenvolvida por diversos estudiosos. Atualmente a UNESCO tem levado a frente campanhas de grande repercussão planetária; das quais se destaca as Listas de dos Patrimônios Naturais e Culturais da Humanidade. Entre nós temos o já cristalizado e estabelecido IPHAN, com mais de 70 anos de atividade. Todavia, persiste e retorna a indagação incômoda: o que fazer com os vestígios do mundo tradicional e antigo que tem desmoronado e se arruinado nos centros antigos ditos históricos das grandes cidades brasileiras e latino-americanas? São Luís não poderia deixar de fugir a essa retórica hipermoderna, qual seja, a vertigem da perda dos traços arquitetônicos e históricos, tanto materiais quanto intangíveis e simbólicos: há uma crescente sensação de obsolescência das coisas, dos objetos, dos modos de viver, dos fazeres e dos saberes... No ano passado, vimos a manchete de um jornal local estampar: "Restaurando os Prédios Alheios". Nessa reportagem a jornalista revela espanto com o fato de o poder público estar investindo milhões de reais em prédios de particulares. E é mesmo de espantar toda gente! Por que esse dispêndio milionário em gastar dinheiro público para manter um cenário histórico cada vez mais fantasmagórico, abandonado - símbolo o fracasso de um modelo equívoco - se a cidade tem bairros populosos que não recebem equipamentos básicos para manter-se com níveis decentes de qualidade de vida? O que justifica tal investimento: a nostalgia dos tempos de glória e de fortuna das classes que dominavam o estado nos séculos passados? A Superintendência do IPHAN, interpelada sobre essa idiossincrasia espantosa respondeu: "- A impressão que dá é que o maranhense não tem consciência de que tem um tesouro nas mãos e que precisa cuidar dele". Eis uma visão simplificada e ingênua do problema sócio-cultural em voga! Coloca-se sempre a culpa na suposta 'insensibilidade estética e artística da população' - a mesma que preserva a cultura popular e o folclore, como poucas no mundo; curiosamente, culpa-se a população pela sua suposta 'ignorância', ao lançar os prédios - considerados verdadeiros 'tesouros arquitetônicos' do passado - na ruína e no abandono. A superintendência não se pergunta: por que essa mesma população que se dedica a preservar e manter viva as suas tradições artísticas, como o Bumba Boi, o Tambor de Crioula, o Tambor de Mina, entre outras, teria esse comportamento desprezível em relação aos prédios históricos. Será o mesmo maranhense? Lógico que não: os proprietários desses prédios não são os mesmos maranhenses que preservam a cultura popular e o folclore; são donos de prédios que se beneficiarão dos investimentos públicos aprovados pelo IPHAN... Só quem faz pesquisa pode responder a tais questões perturbadoras e pode encontrar a lógica sócio-cultural subjacente a esses comportamentos e práticas... A população 'ignorante' paga duas vezes, pela sua culpada 'ignorância' denunciada por um agente público em pleno jornal diário - em flagrante desrespeito ao espírito público geral - e agora pagará também, e ainda muito mais, ao ter que ver e aceitar o dinheiro público serem gastos em prédios particulares; dinheiro que poderia ser aplicado em benefício da urbanização de diversos bairros da cidade: especialmente em saneamento e saúde pública. Há algo mais importante que o 'patrimônio' representado na saúde de um povo? Por que o patrimônio histórico nas mãos de particulares é mais valioso, 'é um tesouro', maior que o saneamento básico nos bairros da cidade? É preciso que estas pessoas enfrentem a seguinte questão: por que é que a população não dá valor a esses cenários históricos do passado? Por ignorância? Essa é a resposta? Essas pessoas 'sabidas', com tanta 'sensibilidade estética' deveriam se perguntar se a população concorda com esse modelo de patrimonialização, esses investimentos vultosos de mais de duas décadas, que só tem beneficiado uns poucos indivíduos e grupos nessa área da cidade. É preciso que nós passemos a enfrentar e a questionar esse modelo arrogante de patrimonialização, que de democrático não terá nunca qualquer inspiração. Devemos nos interrogar, e fazer pesquisas, para encontrar outro modelo que responda aos anseios da população, que precisa acreditar que essas políticas são em seu benefício; o que não parece ser verdade, ao menos do que se expressa nessa ideologia simplificadora. Numa cidade tão carente de diversos equipamentos e insumos básicos, é um luxo satânico manter esse tipo de política patrimonialista que só beneficia os proprietários desses prédios, valorizando-os para a especulação imobiliária futura. Porém, nós sabemos que estes 'agentes públicos' de plantão, parecem não pensar nos interesses gerais da cidadania; pensam em dar respostas aos interesses dos que os colocaram nessa posição e lugar. Não fazem pesquisas, não desenvolvem trabalhos autênticos de empoderamento da população que reside nesses bairros 'históricos', e mais, ainda se apropriam das ações e dos projetos de outras instituições sérias. Enquanto esse modelo imperar vão continuar culpando a suposta 'ignorância' da população e reproduzindo os interesses dos proprietários desses prédios. É preciso que se dê um basta a essas práticas que favorecem os que vão especular com a valorização imobiliária desses espaços sociais. Isso é certo: haverá investimento com dinheiro público que só beneficiará esses proprietários, que depois de garantidos seus benefícios venderão esses prédios para os estrangeiros! A população verá seus 'tesouros' salvos, mas agora entregues aos 'gringos', como se diz: ficará enfim sem seus 'tesouros'! Os grupos de poder e decisão da cidade sabem difundir e defender seus interesses. O que é estranho é a inércia dos agentes públicos como os estabelecidos nos MP Estadual e Federal, as Promotorias do Patrimônio e do Meio Ambiente: por que não promovem uma investigação contra esses outros 'agentes públicos', títeres instalados no escalão federal... É evidente que essa política de investimentos só serve para enriquecer um pequeno grupo de 'sabidos': empreiteiros e aventureiros estrangeiros... Por que não se faz pesquisa universitária nesses espaços? Por que se tem tanta dificuldade em estabelecer políticas culturais democráticas e participativas nesses centros históricos? Por que não se cria um Plano Diretor para o Centro Histórico e se dá condições de participação democrática nas decisões sobre investimento nesse espaço social? Por que esses projetos mirabolantes não passam pelos Conselhos de Cultura e Patrimônio? Falta mais democracia e mais pesquisa social!

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TEATRO DAS MEMÓRIAS: cidadania e direitos culturais

Veja Artigo:

Rastros de Apropriação do Projeto ao Port-Fólio do IPHAN.


Veja Vídeo Produzido pelo IPHAN:

Site em Língua Russa:

Site Vídeos Brasil:

Livro Produzido pelo IPHAN, com nome do Projeto:
Portfólio do DESIGN OCABIO:

OBSERVAÇÃO:
Em nenhum momento faz-se alusáo ao fato de que o Projeto Teatro das Memórias foi criado pelo Grupo de Pesquisa e Estduso Culturais da UFMA, coordenado pelo Prof. Dr. Alexandre Fernandes Corrêa.