Edital MCT/CNPQ 14/2008 Universal Processo 470333/2008-1



21 de outubro de 2008

PROJETO AÇÃO CULTURAL TEATRO DAS MEMÓRIAS


PROJETO DE PESQUISA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

AÇÃO CULTURAL EM BAIRROS

HISTÓRIA DE VIDA
MUSEU DAS CRIANÇAS
MEMÓRIA DE IDOSOS

TEATRO DAS MEMÓRIAS: entre o passado e o futuro.

Artigo originalmente apresentado na VIª Semana Nacional dos Museus, cujo tema central foi “Museus como Agentes de Mudança Social e Desenvolvimento”, no Memorial do Palácio Cristo-Rei, na Universidade Federal do Maranhão.

Introdução

O tema da VIª Semana Nacional dos Museus no Brasil, no ano de 2008, foi “Museus como Agentes de Mudança Social e Desenvolvimento”. Esse tema também foi o escolhido para o Ano Ibero-Americano de Museus. O presente artigo é uma elaboração em texto escrito da conferência apresentada no Memorial do Palácio Cristo-Rei, da Universidade Federal do Maranhão, que programou exposições e atividades ligadas ao evento nacional (Posteriormente as idéias aqui apresentadas foram colocadas no I Encontro de Estudos Culturais, ocorrido em São Luís, maio de 2008). Portanto, esse texto possui as características de uma articulação de idéias programáticas com algumas indicações prospectivas para a ação cultural futura.
Logo de início é necessário salientar que é muito salutar as Universidades brasileiras vincularem-se e integrarem-se ao processo de debates e reflexões sobre a função social dos Museus na sociedade local e nacional, assim como no continente, contribuem para o processo de democratização das políticas culturais na contemporaneidade. É preciso, cada vez mais, refletir sobre a contribuição que as Universidades podem dar para a crescente demanda pela democratização do acesso aos museus em nosso país, além da atenção as demandas pela transformação de suas funções e papéis sociais e culturais na atualidade.
Num campo, espaço ou área do conhecimento dominada por um forte conservadorismo é muito importante aprofundar a disposição de se renovar os paradigmas de atuação e das práticas museológicas atuais. “Precisamente porque o patrimônio cultural se apresenta alheio aos debates sobre a modernidade ele constitui o recurso menos suspeito para garantir a cumplicidade social. Esse conjunto de bens e práticas tradicionais que nos identificam como nação ou como povo é apreciado como um dom, algo que recebemos do passado com tal prestígio simbólico que não cabe discuti-lo. As únicas operações possíveis – preservá-lo, restaurá-lo difundi-lo – são a base mais secreta da simulação social que nos mantém juntos. Frente à magnificência de uma pirâmide maia ou inca, de palácios coloniais, cerâmicas indígenas de três séculos atrás ou à obra de um pintor nacional reconhecido internacionalmente, não ocorre a quase ninguém pensar nas contradições sociais que expressam. A perenidade desses bens leva a imaginar que seu valor é inquestionável e torna-os fontes de consenso coletivo, para além das divisões de classe, etnias e grupos que cindem a sociedade e diferenciam os modos de apropriar-se do patrimônio. Por isso mesmo, o patrimônio é o lugar onde melhor sobrevive hoje a ideologia dos setores oligárquicos, quer dizer, o tradicionalismo substancialista” (Canclini, 2003: 160). Mas, não deixa de parecer paradoxal e surpreendente que os Museus – lugares tradicionalmente estabelecidos como locais de conservação e preservação do antigo, do obsoleto e do passado – passem a vir a ser lugares de reflexão sobre as transformações culturais, o desenvolvimento e a inclusão social. Todavia, como se sabe algo é considerado ‘paradoxal’ até o momento em que se encontra a lógica subjacente que ainda estava oculta, revelando a relação e o vínculo encoberto. Destarte, esse é um desafio interessante para todos nós e integra uma dialética fecunda para o pensamento sobre os estudos culturais contemporâneos.

Atenção!
Cuidado com o Plágio e a Cópia não autorizada do Nome desse Projeto e dos Conceitos e Concepções dessa Ação Cultural. Direitos Reservados ao Autor do Projeto.
Em São Luís existe um 'Grupo' que está vendendo um projeto com o mesmo nome, mas que não foi autorizado. Logo sofrerá interpelação jurídica adequada.

13 de outubro de 2008

VISITE O BLOG DO GRUPO DE PESQUISAS & ESTUDOS CULTURAIS


Gentrificado.
Digital, Marcelo Min/Agência Fotogarrafa, Gentrificação, 2006/0207, Largo da Batata - Gentrificação.

Gentrificado - Gentrificação:

"Processo de restauração e/ou melhoria de propriedade urbana deteriorada realizado pela classe média ou emergente. Geralmente resultando na remoção de população de baixa renda".

DIREITO A CIDADE: O Futuro das Cidades e a Luta por Espaço
Trechos do texto de Jean-Pierre Garnier. Le Monde Diplomatique Brasil - Março de 2010.
A chegada, aos bairros operários, de grupos sociais pertencentes às classes de maior poder aquisitivo é vista, com frequência, como uma invação. Para a maior parte dos moradores afetados, essa mudança significa especulação financeira e imobiliária, o que acelera sua expulsão e substituição por moradores mais abastados.

A moda 'patrimonialista'.
Não se trata mais de fazer do espaço urbano tabula rasa como na época da 'renovação-escavadeira', quando pedaços - ou bairro inteiros - da cidade eram considerados 'insalubres' e derrubados para 'liberar terrenos' propícios ao florescimento de imóveis de 'categoria' com finas residenciais ou comerciais. As ruas tortuosas e estreitas, herdadas ao longo dos séculos também foram submetidas ao mesmo processo, dando luagar a 'anéis viários' e 'radiais' para adaptar a cidade ao automóvel. Atualmente, a palavra de ordem não é 'destruição' - salvo um ou outro edifício 'irrecuperável' -, e sim 'reabilitação', 'regeneração', 'revitalização' ou ainda 'renascimento' (em São Luís usa-se o termo 'reviver'). Em voga entre aqueles que ocupam cargos ligados à manutenção e à reorganização das cidades, essa terminologia visa sobretudo dissimular uma lógica de classe: reservaros espaços 'requalificados' às pessoas de 'qualidade'. "Todos esses termos que começam por 're' são a priori positivos para a cidade, mas excluem completamente a questão social", nota um geógrafo belga. "Quando um bairro torna-se descolado e entra na moda, isso implica que parte dos moradores será 'descartada'. A região 'melhora', mas não para as mesmas pessoas". Dito de outra forma, se há 'reforma urbana', ela visa antes 'renovar' a população local para que os moradores das zonas centrais dos grandes conglomerados urbanos possam exercer sua vocação: se impor como habitantes de 'metrópoles' dinâmicas e atrativas.
ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA
Ainda que efetuada progressivamente, a chegada de grupos sociais pertencentes às classes assalariadas de maior poder aquisitivo e profissionais liberais em bairros operários é vista, com frequência, como invasão pelos habitantes originais. Para a maior parte dos moradores afetados, essa mudança significa especulação financeira e imobiliária, o que acelera sua expulsão e substituição no espaço por citadinos mais abastados e educados, desejosos de constituir uma identidade residencial que esteja de acordo com a identidade social.
Gentrificação
 A 'gentrificação' não atinge somente o espaço construido: afeta também o espaço político e, em particular, a natureza dos partidos políticos.
Jean-Pierre Garnier. Autor de Une Violence Éminemment Contemporaine: essais sur la ville, la petit bourgeoiese intellectuelle et l'éffacemente des classes populaires. Agone, Marselha, 2010.

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SOBRE ESTUDOS CULTURAIS, PATRIMÔNIO CULTURAL, MEMÓRIA SOCIAL, ETC.

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8 de outubro de 2008

LANÇAMENTO DE LIVRO & ENTREVISTA



LANÇAMENTO LIVRO PATRIMÔNIOS BIOCULTURAIS

Lançamento do livro Patrimônios Bioculturais: Ensaios de Antropologia do Patrimônio Cultural e da Memória Social. São Luís: EDUFMA-Núcleo de Humanidades, 2008.

Foi no Dia 02 de outubro de 2008, às 17:30h, Auditório A do CCH-UFMA.

Autor:

Alexandre Fernandes Corrêa - UFMA

PATRIMÔNIOS BIOCULTURAIS: ENSAIOS DE ANTROPOLOGIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL E DAS MEMÓRIAS SOCIAIS

ÍNDICE
PREFÁCIO – INTRODUÇÃO –
CAPÍTULO I – PATRIMÔNIO EM PERSPECTIVA
CAPÍTULO II – ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS & CONCEITUAIS
CAPÍTULO III – MEMÓRIA SOCIAL & PATRIMÔNIO
CAPÍTULO IV – PATRIMÔNIOS BIOCULTURAIS
CAPÍTULO V – PATRIMÔNIOS, MUSEUS & SUBJETIVIDADES
CAPÍTULO VI – SOCIEDADE ANÔNIMA & URBANIDADE ENFURECIDA
CAPÍTULO VII – NOVOS PATRIMÔNIOS & NOVOS MUSEUS
CONSIDERAÇÕES FINAIS – A GESTÃO POLÍTICA DO TEATRO DAS MEMÓRIAS
PRÓLOGO – O ‘COMPLEXO DE DÉDALO’ EM UMA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

São Luís: EDUFMA-Núcleo de Humanidades, 2008.

COMUNIDADE VIRTUAL DE ANTROPOLOGIA (CVA) –
http://www.antropologia.com.br/

ENTREVISTA AO AUTOR DO LIVRO

PATRIMÔNIOS BIOCULTURAIS: ENSAIOS DE ANTROPOLOGIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL E DAS MEMÓRIAS SOCIAIS
Autor: Alexandre Fernandes Corrêa - UFMA

Entrevista por Gláucia Buratto Rodrigues de Mello

Perguntas:

1. Gláucia: Alexandre, como foi o trabalho feito para a publicação de seu último livro?
Alexandre: Gláucia, primeiro é uma satisfação participar dessa entrevista, pois nossa amizade já tem longa data e é uma grande alegria poder compartilhar com vc esse momento. Esse livro é resultado de um longo trabalho que começou logo após a defesa da tese, na PUC/SP, em 2001, e que continuou com a publicação em edição limitada de uma versão preliminar do texto academista original. Esse livro que lanço agora, recebeu um tratamento mais rebuscado. Além disso ele está acrescido de textos que foram publicados e apresentados em revistas, em anais de eventos e congressos, na Internet, etc, no decorrer desses sete anos.

2. Gláucia: Qual a importância que vc vê na publicação do seu livro?
Alex: Bem, estava lendo recentemente José Ortega Y Gasset, e esse grande filósofo espanhol escreveu algo que me impressionou pela sinceridade e verdade. No texto Rebelião das Massas, ele escreveu que uma “excelente ocasião para praticar a obra de caridade mais adequada a nosso tempo; é não publicar livros supérfluos”. Eu creio que esse livro que publico agora não é um livro supérfluo, pois apresenta uma contribuição original, genuína e autêntica de um pesquisador independente. Creio que, sem querer ser desagradável, há muita mesmice e repetição de idéias dos supostos ‘centros’ do pensamento antropológico, sobre o tema do patrimônio cultural e da memória social. Nós da suposta ‘periferia’ somos um tipo de ‘complexados’ e nós, brasileiros em especial, do ‘terceiro mundo’ tendemos a imitação e repetição obsedada. Vence quem repete melhor – o mais talentoso entre nós, é aquele que empreende uma ‘franquia’ da moda, hoje rentável no capital acadêmico, de algum autor ‘estrangeiro’. Nesse livro não se encontrará isso. O que certamente decepcionará os que são ávidos por simulações ou emulações intelectuais. Pois, se encontra nessa publicação um exercício de imaginação sociológica brasileira e latino-americana, que tenta pensar as singularidades de nossa realidade; que as importações intelectuais não dão conta. Mas, também se trata da publicação de ensaios que reúnem reflexões acerca de temas que estão em voga num contexto de acelerado processo de mundialização cultural. Assim, acredito que se trata de uma boa ferramenta para estudantes e pesquisadores cultivarem debates fecundos sobre a gestão política das memórias sociais na atualidade.

3. Gláucia: Alexandre, então, se não se trata de um livro supérfluo e repetitivo, qual, ou quais são as contribuições originais que ele traz ao debate?
Alex: Primeiramente, o livro procura contribuir com a superação de um paradigma ainda muito poderoso que é o cartesianismo, isto é, esse modo de pensar que fragmenta, separa e compartimentaliza o mundo. Por isso o livro chama-se Patrimônios Bioculturais. Nesse sentido, encontra-se nesse livro uma tentativa clara de enfrentar essa visão de mundo que se pretende perpetuar reproduzindo indefinidamente dicotomias e antinomias do tipo Natureza/Cultura, Material/Imaterial, Tangível/Intangível, e assim por diante. Isso é, eu creio, uma questão que no livro aparece de modo preciso e que não vejo ser enfrentado nas publicações mais recentes sobre esses temas, tão importantes, ligados a política cultural. Outra coisa que se encontra no livro, e que parece ser outra contribuição significativa, é a ousadia de apresentar alternativas a esse paradigma. Não se trata de só criticar, mas de apresentar também saídas para essas ‘encruzilhadas do labirinto’ em que nos encontramos hoje, parafraseando Castoriadis. O livro é crítico, mas também é propositivo e sugere prospectivas mais democráticas para a ação cultural.

4. Gláucia: Nesse seu trabalho crítico, quais são as principais referências teóricas que vc destacaria?
Alex: Bem, são muitas as fontes do pensamento crítico exercitado no livro, mas eu destacaria o legado da Teoria Crítica, com incursões no pensamento de Walter Bejamin e também de J. Habermas; nos textos de Castoriadis, já referido ainda a pouco; Edgar Morin, em relação a crítica ao cartesianismo, quando se aproxima da Epistemologia da Complexidade e nesse mesmo caminho, tem muitas afinidades, nesse livro, com a produção dos autores ligados aos Estudos Culturais. Não poderia deixar de fazer referência a Marcel Mauss, que na seqüência dos trabalhos de C. Lévi-Strauss, serviram de base para o enfrentamento da visão fragmentadora.

5. Gláucia: Alexandre, então, seria o momento para vc falar um pouco sobre o conceito de patrimônios bioculturais, que vc considera a sua contribuição mais valiosa ao debate sobre gestão e promoção dos patrimônios naturais e culturais e das memórias sociais.
Alex: Sim, é verdade, considero que esse é um ponto forte do conjunto desses ensaios. De imediato já gostaria de fazer uma referência importante a um professor e pesquisador, que fez o prefácio do livro, e que é o grande responsável pela formação desse conceito no processo da pesquisa de doutorado, realizado nos anos de 1997 a 2001. Trata-se do professor Edgard de Assis Carvalho. Foi nas conversas e diálogos com ele que surgiu esse conceito. As idéias não são propriedades de autores, elas estão vivas no mundo das idéias, como diz Edgar Morin, na noosfera. E esse conceito surgiu como uma noção plástica que incorpora realidades tidas como separadas, pelo paradigma cartesiano fragmentador. Na verdade, esse conceito tem uma herança que vem desde Marcel Mauss, Lévi-Strauss e Merleau-Ponty e passa por Morin, Bateson, Prigogine, Francisco Varela, Fritjof Capra, e muitos outros que trabalham com a epistemologia da complexidade e os estudos culturais. É um conceito que rebate essa moda triunfante das dicotomias de patrimônios materiais e imaterias, tangíveis e intangíveis, naturais e culturais – é um conceito formulado por um pensamento que se insurge contra esses reducionismos. De modo bem geral, pode-se dizer que se trata de um conceito re-integrador, que remete a “recomposição do todo”, como afirmava M. Mauss.

6. Gláucia: Essa ‘insurreição’ de que vc fala, do que se trata, mais exatamente?
Alex: Bem, se trata de um problema político. Nesse domínio do patrimônio, da memória e da cultura, tem muito conservadorismo, como aponta Canclini, em Culturas Híbridas, é nesse campo e espaço social que as oligarquias mais reacionárias se instalam (veja o caso do Maranhão, que é exemplar); então, como não poderia deixar de ser no que se refere a política cultural, esses conceitos que estamos introduzindo no debate, são instrumentos para uma insurreição do pensamento, contra essas formas domesticadoras e fossilizantes do excessivo processo de patrimonialização que estamos vivendo. Nesse sentido, esses textos trilham as veredas da crítica abertas pela reflexão mais recente de Henri-Pierre Jeudy. Causa muita espécie vc se colocar contra esse modismo patrimonialista atual, que pretende recolher dividendos na onda da ‘turistificação’ e ‘gentrificação’ alucinada dos sítios históricos brasileiros. Esse livro é uma forma de enfrentamento duro contra essa ideologia.

7. Gláucia: Alexandre parece que nesse ponto vc se choca com a política que está em voga, já há 10 anos, e que comumente se tem como uma renovação e novidade na área da preservação do patrimônio. Como vc se coloca nesse contexto?
Alex: Sua pergunta é excelente, pois é esse o centro, o ponto chave das distinções que meu trabalho tem aprofundado nesses últimos anos. A política preservacionista hoje em voga parece ter muitos apoiadores e entusiastas, mas ocorre que historiadores, sociólogos e antropólogos estão incorrendo em erro quando pensam que uma ideologia do ‘patrimônio imaterial’ pode vir a ser a salvação para suas pretensões disciplinares. Quando pensam que ‘finalmente’ temos um reconhecimento do nosso trabalho e importância profissional, estão deixando de refletir sobre as conseqüências epistemológicas desse reducionismo consentido. Afinal, todos nós sabemos que não há bem material que não seja simbólico e carregado de significados ‘intangíveis’; qualquer objeto material está carregado de simbolismo. Então, não tem como separar, nem privilegiar uma das dimensões, nem se alegrar com uma coisa dessas. O antropologismo, ou o sociologismo, é tão pernicioso quanto o materialismo, ou o idealismo. Não se supera um paradigma reificando-o e, assim, contribuindo para sua perpetuação. É necessário um novo modo de pensar, numa transformação efetiva da concepção de patrimônio. Creio que essa satisfação em se tornar mais um tecnocrata do patrimônio, com uma nova especialização reconhecida e canonizada, produzirá muitos equívocos. E, vc tem razão, terei que ter muita paciência, pois esse estado de coisas tende a demorar muito tempo para se transformar. Apesar de eu achar que o tempo trabalha a nosso favor.

9. Gláucia: Parece que agora eu entendi melhor a idéia de ‘complexo de dédalo’ que vc apresenta no prólogo do livro...
Alex: É realmente isso! O que chamei de ‘dédalos do patrimônio’ são estes ‘parques’ ‘turistificados’ e ‘gentrificados’ que estão sendo criados nos centros históricos brasileiros e latino-americanos. São os novos brinquedos dos ‘tecnocratas do patrimônio’; o curioso é que parece que os antropologistas e sociologistas estão aderindo de modo acrítico a essa ideologia. É o que Castoriadis chamou de Encruzilhadas do Labirinto; precisamos de superar as heteronomias que estão se impondo de modo tirânico. É preciso mais autonomia e reflexão independente.

10. Gláucia: Vc não considera que nesse ponto encontrará muitas dificuldades de aceitação do seu trabalho, já que está enfrentando um modo de pensar ainda dominante e muito disseminado atualmente nas instituições de cultura e do meio ambiente?
Alex: Já estou detectando muita resistência, é verdade. Mas, essa é uma dificuldade, ou um risco, que um pesquisador não pode se furtar de passar, afinal, foi por meio de um trabalho profundo e criterioso que se chegou a essa nova hipótese, a essa nova forma de pensar a política cultural e ambiental. A proposta do livro é de oferecer uma crítica, mas também oferece uma sinalização nova e alternativa, em nome do que poderia ser diferente e realmente inovador. Oferece um novo paradigma re-integrador, que defende a re-unificação do campo epistêmico; isso pode provocar muitas resistências, mas faz parte do processo de avanço do conhecimento: são os obstáculos epistemológicos que se apresentam no momento. Já estou há mais de 10 anos nessa trilha, não tem problema se as resistências ainda são fortes e que as reações venham a ser recorrentes: o conformismo é geral. O importante é ser honesto com seu próprio trabalho e apresentar a sociedade alternativas legitimas para uma nova gestão política e democrática do teatro das memórias sociais. Nesse sentido político uma publicação universitária ganha uma importância enorme, só numa universidade pública é que eu consegui acolhimento para estas reflexões livres. Agradeço muitíssimo essa chance de apresentar idéias independentes e autônomas. Agradeço muito o verdadeiro espírito universitário e a UFMA! E a vc também, e a CVA, a oportunidade de apresentar essas idéias e propostas. Oxalá vivamos melhores dias na área da política cultural e ambiental!