Edital MCT/CNPQ 14/2008 Universal Processo 470333/2008-1



10 de maio de 2012

O SILÊNCIO DOS CULPADOS E A OMISSÃO DOS INOCENTES


Por: Joãozinho Ribeiro Data de Publicação: 7 de maio de 2012 

“O Século XXI será da cultura e da espiritualidade ou não será”. André Malraux


Circularam na rede, nesta última semana, dois manifestos/desabafos de autoria de duas divas do circuito artístico-cultural maranhense, pelas quais cultivo um profundo sentimento de respeito e explícita admiração, pela seriedade com que tratam as questões da arte & da vida e pelas posições insurgentes que tiveram a coragem de expressar, sem fazer média com quem quer que seja, colocando o dedo na fratura exposta das políticas culturais do Estado do Maranhão e do Município de São Luís, num momento de imensos desapontamentos em todos os níveis, de artistas, produtores e agentes culturais de nuestra tierra.


Keyla Santana, atriz, produtora cultural e mestranda do Curso Cultura e Sociedade, da UFMA; Natália Ferro, cantora e compositora das mais promissoras das novas gerações; ambas, mulheres destemidas, que botaram a boca no trombone, compartilhando com o mundo circunstante a sensação de vazio e de desamparo das produções locais, denunciando o “mais do mesmo”, a “consagração dos consagrados” e a marginalização de dezenas de artistas que se recusam a fazer de suas criações apenas instrumento de “alienação da galera” e da proliferação do massacre midiático imbecilizante das emissoras de rádio e televisão, sob a cumplicidade e complacência do patrocínio do empresariado da província.

Essa falta de consideração com o patrimônio cultural, seja maranhense ou nacional, é um fenômeno que atinge marcas alarmantes, promovido em escala gigantesca pelas maiores empresas de comunicação do país, e projetado nos estados e municípios, com uma força cada vez mais avassaladora, em nome de uma cultura de massa e audiência a qualquer preço, que trava e impossibilita o surgimento e consolidação de alternativas culturais baseadas no engenho e na arte da nossa rica diversidade criativa.

Recentemente, foi destaque na imprensa local e nacional, a notícia de que São Luís ocupava uma das posições mais insignificantes no ranking das Cidades Criativas Brasileiras; mais especificamente, cidades que ostentam processos e/ou experiências exitosas associadas à economia criativa, setor da Economia da Cultura responsável atualmente por cerca de 10% do PIB do planeta, conforme pesquisas de estudiosos do assunto, pertencentes ao mundo acadêmico e empresarial de diferentes continentes.

E por falar em pesquisa, uma do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada neste último final de semana, revela que o Maranhão ocupa a quarta posição no ranking de estados com piores rendimentos escolares. Cerca de 61% de pessoas com 10 anos ou mais contam apenas com a educação básica ou nenhum tipo de instrução.
Com a educação abandonada à própria sorte (ou azar?) e o desprezo ao processo criativo dos nossos artistas e intelectuais, o que esperar de um Estado onde ainda impera a mais longeva oligarquia do País? Que cidade é essa, que recebe o título de Capital Americana da Cultura e o seu aeroporto permanece na condição de um acampamento de indigentes, com tendas superfaturadas por todos os lados?

Sem incentivo à diversidade criativa não há como agregar valores ao que se produz ou produzirá neste emaranhado de interesses privados em que patina e escorrega o Maranhão, sem avançar um centímetro sequer no rumo da venta. Grandes projetos só podem fazer algum sentido se a riqueza produzida por eles for compartilhada pela maioria da população que habita o território onde estes estão sendo implantados.

A agregação de valores em todos os campos da criação humana só acontece com cidadãos livres para pensar, criar e fazer as suas escolhas; seja no campo político, social, econômico, religioso, cultural ou ambiental. Sem este requisito é impossível se falar em desenvolvimento, como se este acontecesse por um passe de mágica, retirando, de uma hora para outra, milhões de pessoas da condição de miséria, sem atacar a besta-fera da desigualdade e a posição daqueles que se beneficiam com a desgraça alheia.

Concluo a conversa desta semana com os leitores da coluna, compartilhando um texto da Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Ana Carla Fonseca, que recentemente teve sua tese “Cidades Criativas”, aprovada com louvor na ECA/USP:

“Dentre as várias definições possíveis de desenvolvimento, uma das mais professadas foi cunhada pelo economista indiano Amartya Sen. Para ele, desenvolvimento requer a expansão das liberdades de escolha – que, por sua vez, exigem não apenas a possibilidade de fazer uma escolha (ou seja, ela estar disponível), como também ter a capacidade de refletir a respeito do que se quer escolher, ao invés de escolher o que os outros (a mídia, a opinião pública, a crítica especializada) nos levam a querer”.

Minhas caras e estimadas, Keyla e Natália, parabéns, mais uma vez, pela coragem e sinceridade das intenções e gestos conscientes e generosos que compartilharam conosco, desafiando o silêncio dos culpados e a omissão dos inocentes.

Joãozinho Ribeiro escreve para o Jornal Pequeno às segundas-feiras.

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