Joãozinho Ribeiro
Em meados de 2009,
quando estive cedido para o Ministério da Cultura, como coordenador executivo
da II Conferência Nacional de Cultura, tive a oportunidade de ouvir de um senhor
ribeirinho da região amazônica a explicação mais sincera e pragmática sobre o
papel de uma conferência pública.
Mestre Alarino, do
alto dos seus 80 anos de história, provocado por uma jovem repórter de uma
emissora de TV do Estado do Pará acerca desse assunto, não mediu palavras, nem
pensamentos e foi direto na resposta: “É pra conferir, minha filha, se
tudo está nos conformes”. Disse tudo!
As conferências
públicas são espaços participativos mundialmente consagrados, se constituindo,
por excelência, na forma de concertação adotada pela Organização das Nações
Unidas para tratar das questões de relevante interesse mundial; como é o
recente caso da Conferência de Copenhague, que pautou as questões climáticas,
assim como a Conferência Mundial dos Direitos Humanos, realizada em 1993, que
teve como principal resultado a Declaração de Viena, hoje com muitos dos seus
artigos incorporados pelas Cartas Constitucionais de mais de uma centena de
nações integrantes da Organização das Nações Unidas.
As conferências públicas
no Brasil se consolidaram como espaços de participação da sociedade, que dão
concretude ao exercício da soberania popular, prevista no art. 1º da nossa
Constituição Federal. Servem também para qualificar as políticas públicas
implementadas pelos diversos entes federados, municiando as casas legislativas
de legítimas demandas, muitas delas transformadas em dispositivos legais que
acabam incorporados ao ordenamento jurídico vigente.
No Maranhão, durante
a gestão Jackson Lago, o Estado viveu um momento ímpar de sua história, no que
diz respeito ao apoio e incentivo a realização de conferências e fóruns,
valorizando a participação popular na construção de políticas públicas, em
todas as regiões da nossa unidade federativa.
Particularmente, na
área cultural, em dezembro de 2007, foi realizado o I Fórum Estadual de
Cultura, o mais participativo e democrático até hoje realizado, contando com a
presença de 1094 participantes, oriundos de todos os municípios do Estado,
representando as diversas linguagens artísticas e os diferentes segmentos
culturais. O Governador Jackson Lago se fez presente, prestigiando o evento ao
lado do então Secretário de Articulação Institucional, Marco Acco, e do Secretário
de Cidadania Cultural, Célio Turino; ambos representantes oficiais do
Ministério da Cultura.
No I Fórum Estadual
de Cultura foram definidas, de forma transparente e democrática, as diretrizes
maiores para a implantação de uma política pública de cultura, baseada nos
famosos três “Ds”: Democracia, Descentralização e Diversidade. Foi neste fórum
que o Conselho Estadual de Cultura foi reconstruído, pois se encontrava
desativado desde 1995; que o Plano Estadual de Cultura (2007/2010) foi debatido
e aprovado; e que a proposta da criação de um Fundo de Desenvolvimento da
Cultura Maranhense foi apresentada e referendada publicamente, posteriormente
incorporada à Lei 8.912, de 23/12/2008, aprovada pela Assembléia Legislativa e
até hoje não regulamentada pelo Poder Executivo, leia-se: pela Governadora
Roseana Sarney.
Na semana que se
inicia, precisamente nos dias 16 e 17, a Secretaria de Estado da Cultura
realiza o II Fórum Estadual de Cultura, tendo como um dos seus principais
objetivos a reestruturação do Conselho Estadual de Cultura, que novamente se
encontra sem funcionamento, por conta da extinção do mandato da diretoria
eleita e empossada faz mais de três anos.
Esperamos que todo
esse passivo cultural seja devidamente resgatado durante os debates,
principalmente pelos representantes dos municípios que estarão presentes no II
Fórum, pois a implantação e consolidação do Sistema Estadual de Cultura já não
pode mais esperar pela boa vontade política dos governantes, contrariando até
as próprias diretrizes aprovadas nas últimas Conferências Estadual (2009) e
Nacional (2010).
Sem Plano, Fundo e
Conselho de Cultura, estruturados e em funcionamento, estaremos nos
distanciando cada vez mais da gestão de uma política pública de cultura, e
mergulhando, perigosamente, numa política de eventos, pautada no improviso e no
imediatismo, onde o clientelismo e o apadrinhamento sempre prevalecerão.
Fazer política é
fazer escolhas. Fazer política pública de cultura é escolher entre tomar
decisões na solidão dos gabinetes refrigerados em nome da população, ou
enveredar pela consulta de amplas parcelas da sociedade, estimulando o
protagonismo e o exercício da cidadania, além de cumprir as deliberações
debatidas e aprovadas nestes fóruns e conferências.
Para atingirmos
estes objetivos o jeito mesmo é seguir, à risca, a sabedoria das palavras do
Mestre Alarino e verificarmos desde sempre se “Tudo está nos conformes”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário