Nós brasileiros não somos muito predispostos à antecipações, gostamos do imediatismo e de fazer as coisas em cima da hora. Haja visto os problemas que estamos tendo com a organização da Copa do Mundo e da Olimpíadas. Todavia, trazemos para esse blog, do fundo do palco, para frente da cena, nossas atenções especiais para os rituais celebrativos e comemorativos do Bicentenário de Independência do País, a ser festejado em 2022. Faltam dez anos para a data de 7 de setembro ser recuperada em todo seu fulgor e potência histórica e cultural. Será certamente um momento de exaltação e efusiva manifestação patriótica e nacionalista; especialmente por parte das agências oficiais. Porém, sabemos que não se restringirá a isso; nem deve. Os críticos vão se manifestar, os céticos, os anti-nacionalistas e toda uma plêiade de intelectuais, autoridades, pesquisadores, estudantes etc., vão expressar as diversas e diferentes versões da efeméride: prato cheio para os historiadores; mas, nem só deles. De nossa parte, vamos acompanhar a evolução dos acontecimentos e recolher tudo que for interessante, a respeito dessa celebração. A partir desse anos, depois de concluirmos nossas observações sobre o IV Centenário de São Luís, vamos nos dedicar aos estudos e pesquisas sobre o Bicentenário de Independência do Brasil.
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LITURGIAS POLÍTICAS
O foco de nossa análise recai sobre os
ritos comemorativos na sociedade moderna, mais especialmente os que ocorrem
mais recentemente no contexto periférico do sistema-mundo. Trata-se de uma socioanálise
crítica de aspectos estruturais próprios da construção social das comemorações
históricas, tomando como objeto empírico principal o IV centenário de "fundação" do Centro Antigo de São Luís/MA, em 2012. Destacaremos alguns dispositivos significativos dos processos rituais
locais, típicos em sociedades situadas na periferia da economia-mundo, que nos
parecem estruturados em modelos sociológicos concorrentes. Ao analisar esses
teatros comemorativos das festas públicas, buscamos compreender a lógica de sua
permanência e mudança, em seus traços socioculturais mais particulares. É a
dialética da permanência e da mudança que nos tem chamado a atenção desde o
nosso primeiro estudo sobre festa popular católica, nos Montes Guararapes de
Pernambuco, no início dos anos de 1990. Nosso interesse no tema já avançou para
observação de outras festividades públicas importantes no vasto calendário
contemporâneo de ritos comemorativos públicos e oficiais. Desde a inauguração
das festas republicanas atlânticas nos países centrais, como as comemorações
dos 200 anos da Independência dos EUA (1976) e da Revolução Francesa (1989),
aos 500 anos da Descoberta da América (1992), até as realizadas em países
semiperiféricos como o Brasil (2000), temos muitas festividades cívicas
completando um rico leque de agendas internacionais. Nosso estudo recaiu mais
recentemente para as festas republicanas e de independência na América Latina,
desde a revolução haitiana, em 1792, até culminar com o foco direto sobre o
processo de construção sociocultural das próximas festividades comemorativas do
Bicentenário da Independência do Brasil, em 2022.
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